NESTAS VIELAS

Nestas vielas que percorro, vivo e vejo pessoas sendo atravessadas, perfuradas, seus corpos invadidos, sem nenhuma reação, mecanicamente falando. Eu só vejo. Não interpreto de outra forma senão a fatual cumplicidade, tipo assim com os órgãos internos, assim como está atravessado o meu intestino delgado, e o grosso também.

Mas é um atravessamento, uma invasão com nuances de perfurações profundas, apenas por eu estar ali, aqui, descrente e descrevendo estas sensações estranhamente impostas pelo momento. Vai passar. O tempo. O ar. O espaço me espera. Estas sensações aparecem e desaparecem num piscar de olhos, num passe de mágica, um filme, uma rua qualquer, uma viela que percorro, socorro!

Continuo fantasiando a viela, saqueada, amarelada pelo mesmo tempo que me atravessa, pelo esquecimento e pelo cimento, pelo concreto do seu gesto, fundamento das necessidades criadas por mim mesmo, carência afetiva, saudade, concreta, como seu gesto, eu indefeso, solitário, imaginando coisas absurdas, de novo, fantasiadas de um sentimento bobo e incoerente, desnecessário pro momento, pois sei que te perdi. Mas sei também que tinha que deixar você partir. Era de extrema urgência.

Saí da viela agora.

Sou um indivíduo composto de vários eus.

Carismático e de plástico.

Socialmente incapaz de não ser atravessado por estas estranhas sensações sem sentido nenhum, assim como meu caminho percorrido nestas vielas perfuradas profundamente pelos sentimentos mais aleatórios e desnecessários neste momento da vida de qualquer pessoa que gosta e que perde porque tem que deixar ir embora.

É da natureza humana.

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 26/09/2023
Reeditado em 13/10/2023
Código do texto: T7894522
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