Um bem tristão, a safadeza bem escrita, e o jogo de cena.

Eu ia escrever outra coisa, já tava tudo quase escrevidinho, um monte de palavras várias. Tinha a ver com uma crônica do Rubem Braga.

"Sabe, entretanto, que terá saudade deste momento; sabe que amanhã pensará com muito carinho nessa bela mulher e ficará espantado de ter sido diante dela apenas um transeunte vazio e triste, vago, neutro."

Vazio, triste, vago, neutro.

Vê só, tristão, não é?

Bem tristão.

Bem choradeira.

Do jeito que eu gosto

Tinha a ver também com uma música do Djavan. Pois bem. Ele deve ser um dos únicos que consegue falar safadeza de um jeito bonito. Ele e aquele lá , o que canta da mangá rosa quero o gosto e o sumo.

Mas é, safadeza bem escrita. Poesia mesmo. Coisa das mais lindas. Falar não falando.

A do Djavan que eu falo é essa aqui. Começa com uma bateria afiadiasima e lá pro meio das estrofes tem isso.

Cê de quatro, amor

Beira art-déco

Uma imagem no altar da luxúria

Você com esse jeito seu

Me venceu

Ah, gosto de você em mim

O lascivo chega a brilhar

De incandescer mais que o sol

Isso aqui é mesmo loucura. Não conheço ninguem mais que consiga rimar "de quatro, amor" e "art-déco" e "lascivo" num lugar só

e ficar bom!

tive até que pesquisar no Google, esse palavrão diferentão. "Art-déco"

Mas não, não era sobre nada disso que eu ia escrever. Porquê depois de ver o que eu vi, tive que desescrever. E eu sou um romântico bobão, insuperável, mesmo. Falo sério. É um trabalho ingrato esse, muito, muito. Qualquer fagulhinha vai incandescer mais que o sol.

Letícia Colin e Michel Melamed. Guardem esses nomes.

Mass antes de chegar neles. Sou um romântico bobão, disso todo mundo sabe, sério. Se não sabe tá sabendo agora. Uma alma perdida, uma coisa incurável. E vai ver o algoritmo do X, antigo Twitter sabe bem disso e me recomenda essas coisas, fica jogando no ar.

Aí eu assisti então esse show, teatro de improviso, com a Letícia Colin e o Michel Melamed, "Bipolar show" e ah, é muito engraçado e quem assistir vai perceber, que o improviso não parece mesmo improviso.

Os dois fazem a cena de um casal se conhecendo, nessa dança meio estranhona onde ninguém sabe os passos, nem a música, nem se era pra dançar. Explicando melhor; Sabe, sabe quando você tá tentando conhecer o outro e não entende muito por onde? Vai no improviso? Quer saber que música o outro gosta, se sabe fazer bambolê invisível, sapateado, imitar o Michael Jackson, se quer casar na cachoeira ou na praia etc.

E ai

O flerte é quase que um Google forms?

E quando você tá tentando impressionar alguém, na vida real, vida real mesmo, aquela de date e todo o resto. É todo um jogo de cena, uma coisa, um não ser emocionado, uma sisudez. Sisudez? Essa palavra existe? Deve existir. Vocês entenderam.

Pois. Assisti o corte no TikTok, depois o vídeo inteiro no YouTube, assisti sorrindo. E aí fui atrás, ne. Completar o ciclo da fofoca.

Aquela coisa maravilhosa

E edificante.

Atrás do casal, pra ver se tinham virado casal mesmo, ou foi só mentirinha, encenação...

E não é que tinham!

Casaram casando. E deve ser assim mesmo, eu acho. O querer estar, implica no outro ser o melhor parceiro de cena que se pode ter, e se pode querer, e se pode pensar.