Antes da última música

Dizer que a vida existe enquanto pretexto para experenciar algo é a melhor definição de vida e de experiência. É a melhor definição aqui, hoje, agora. Mas amanhã é sempre o talvez. Eu nunca vi, ou melhor, eu nunca experenciei uma beleza como a de Björk. Conheço há anos, há anos ela me matou também. De tão bonito que é olhar para ela, de tão linda que ela nasceu, de olhos tão próprios. Morri de beleza. De um abuso do belo, de algo azul. Perdoem por só estar falando do quão extraordinária é a sua cara, enquanto poderia estar exaltando a sua arte. Mas e ela não faz arte com o belo? Com aqueles olhos que, meu Deus, atuam sozinhos. Aquele nariz que seria perfeitamente capturado entre meus dedos, que ficariam felizes em pegá-lo como se faz com criança. Aquele rosto puro, humano. Aquela voz doce, sobre-humana.

Vê-la naquele filme ou naquela poesia que parece musical doeu em versos . E é musical. Mas não posso chamar algo de que tanto gostei de "musical". É musical porque há música, não pelo sapateado ou coreografia típicos. É um drama, um poema, um filme, um musical-só-que-bom. É "Dançando no Escuro". Dançar no escuro, sem som, e cantar em pensamento são coisas que faço todos os dias. Não como no filme, claro, que é possivelmente um entreolhar entre o absurdo, o belo e o azul. Azul porque é cor fria, de tristeza.

Acho que a chuva de agora indica que chorar é da natureza.