"Meu Dodge Polara: Possivelmente um dos Primeiros a Experimentar o Proálcool"

Foi no início do ano de 1976 em São Paulo. Viajando de Guarulhos em direção à Vila Formosa, nos vimos em uma situação inesperada: ficamos sem combustível no meio do caminho, durante a noite, quando os postos já estavam fechados. Meu sogro e eu nos ficamos em um beco sem saída.

No entanto, uma ideia surgiu de repente. Eu me recordei do Proálcool (Programa Nacional do Álcool, lançado no final do ano de 1975). Contudo, o projeto estava apenas no papel e, naquela época, os postos de gasolina vendiam apenas pinga. As mais comuns eram a 51 e a Velho Barreiro.

Decidi sair do carro e fui até um bar. Chegando lá, peguei a garrafa de pinga 51 e li o rótulo: "Destilado do mosto fermentado obtido do caldo de cana-de-açúcar, açúcar e água. Graduação Alcoólica: 39% vol." Em seguida, peguei a garrafa da Velho Barreiro e li o rótulo: "Graduação alcoólica 39%". Perguntei ao balconista se não havia outra pinga com teor alcoólico mais elevado. Ele me olhou e disse: “Meu amigo, para de beber!” Ignorando o comentário, perguntei novamente e ele me respondeu: “Tenho a Boazinha com 42% de álcool, a Vale Verde com 40%, a Seleta com 42% e Anísio Santiago com 44,8% de teor alcoólico”. Aí pensei: “Se essa Anísio tem 44,8% de álcool e o resto é água, vamos ver o que dá”.

Pedi cinco garrafas, paguei e ao sair do bar, o balconista falou: “Cair na cachaça essa hora?”. Nervoso, mandei ele para aquele lugar e fui em direção ao carro. Quando cheguei, meu sogro falou: “Estamos aqui há horas pensando em como chegar em casa e você foi comprar cachaça?”. Já cansado, nem respondi. Abri o tanque e despejei as cinco garrafas no tanque de combustível. Entrei no carro e girei a chave de ignição, mas o carro não pegou. Aguardei por um momento, na expectativa. Meu sogro, vendo a cena, perguntou: “Pinga no tanque de gasolina? Você ficou louco?”.

Louco ou não, na terceira tentativa de girar a chave, o motor começou a estrebuchar, com barulhos no virabrequim e a luz do óleo piscando incessantemente. Eureka!!!!!!! O motor deu sinal de vida! Enfim, após umas quatro horas e o carro pulando como um sapo, chegamos em casa. Ah, sim! Ainda dei um gole no que sobrou da pinga para festejar o feito: "Meu Dodge Polara: Possivelmente um dos primeiros a experimentar o Proálcool".

Estêvão Zizzi
Enviado por Estêvão Zizzi em 31/08/2023
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