FARINHA QUE TUDO SE MISTURA

A mais de dois mil anos a farinha feita da mandioca, macaxeira ou aipim como é conhecida depende da região, é uma das fontes de alimentos mais consumida no mundo, esse alimento que é extraído da raiz desta planta tuberosa utilizando-se métodos artesanais e rústicos, que foram criados e aprendidos pela cultura indígena.

Para farinha chegar a nossas mesas há um longo processo, que se inicia na plantação dos pedaços das manivas na terra, que só depois de um ano ou um ano e meio que são retiradas as raízes, tudo vai depender do solo e da qualidade das raízes, conforme relatado pelo senhor Valter Pires Feitosa que é proprietário de uma casa de farinha no Povoado Floresta, cerca de 8 quilômetros da cidade de Araguaína/TO, povoado que é mais conhecido como "Quebra Vara." Perguntei o porquê do nome, Sr. Valter falou que nem era nascido quando apelidaram o povoado com esse nome, foi na década de 50, e seu pai tinhas umas terras na região, quando aconteceu uma confusão com moradores, e nesta briga utilizaram-se de pedaços de estacas de cercas, de troncos de árvores como meio de defesa e literalmente quebraram nos lombos de algumas pessoas, e que após esse fato batizaram o povoado como Quebra Vara. Um nome criado pela dor (kkkk).

Na casa de farinha toda família trabalha: filhos, esposas, irmãos(as), primos(as) enteados, e segundo senhor Valter, depois de arrancada a mandioca, as mulheres ficam 3 dias descascando-as, depois de descascadas as mandiocas vão para grandes tonéis ficando em torno de 4 dias para o processo de pubação (fermentação). Às três da madrugada Sr. Valter com os demais familiares começam os trabalhos na casa de farinha, as mandiocas são retiras dos tonéis para serem raladas, depois vão para a prensa transformando em uma massa, que volta para a ser ralada, em seguida a massa é peneirada e vai ser escaldada em um forno de lenha, então peneira e torra no forno novamente, um processo longo e cansativo, feito tudo de forma manual. O pouco tempo que passei, meus olhos começaram a encher de água e arderem devido à fumaça da lenha que estava queimando no forno. Perguntei ao Sr. Valter, se ele gostava desse trabalho, me respondeu que sim e que não trocaria por nenhum outro, " é daqui que tiramos nossos sustentos, colocamos o alimento em nossas mesas, e com nosso suor fazendo a farinha, alimentamos muitas famílias", finalizou Sr. Valter.

Na minha infância no nordeste comia farinha misturada com toda coisa, colocava no copo, junto com leite em pó e açúcar e comia com a colher, misturava com abacate amassado e açúcar, no almoço nunca faltava, lembro que minha mãe mistura farinha com feijão e fazia uns bolinhos amassados com a mão, conhecido como Capitão, nunca esqueço quando dona Maria Erádia minha vozinha paterna fritou alguns ovos caipira no azeite de coco e misturou com farinha de puba, até hoje tenho o cheiro e o sabor na minha memória, inclusive minha vozinha raspava com a colher o fruto do Pequi e comia com farinha, deixava o caroço limpinho. Eu como um bom nordestino que já gostava de farinha, agora que vou gostar mais ainda, dá mais valor a esse alimento e aproveitar cada grão.

Essa farinha é cultura

Ela é ensinamento

Feito da forma mais pura

Com gotas de sentimentos

Com ela tudo se mistura

Com ovo, carne seca, feijão

Come com cozido e com fritura

Faz a farofa, arrumadinho e o pirão

Ela dá energia e muita disposição

Farinha é nobre, é popular

O alimento perfeito da população

Fácil de achar em qualquer lugar

"Saco vazio não para em pé"

Então deixa eu ir para cozinha

Preparar um bom café

Para comer com a farinha