Consulta

Semana passada saí de minha rotineira consulta bimestral com o Dr. Galeno direto para a delicatessen mais próxima. Isso por indicação médica. Se você ficou curioso de onde teria saído tão singular indicação, ofereço-lhe um pequeno trecho de nosso inocente diálogo. Adiantadamente peço escusas, uma vez que minha memória não anda valendo lá muita coisa, e o que não parecer-lhe verossímil o bastante, solicito que releve, pois o que não cabe na lembrança a gente inventa. Segue o nosso despretensioso dueto:

- Tuas taxas tão muito baixas, Adalberto. Tá faltando doce nessa vida.

- Olha dr., nunca foi muito comum, mas agora tá mais difícil. E depois de certa idade também...

- Mas nem um serenata?

- E ainda fazem isso?

- Fazem.

- Ah, então tá.

- Nem um beijinho aqui e acolá?

- (risos) Não dr! Sei nem como é isso mais.

- E um Jesus de vez em quando? É um santo remédio!

- Então dr. ... eu até simpatizo, mas é essa correria de todo dia. Acabei esquecendo no porta-malas com uma cartela de ovos.

- Tá, mas não vai deixar estragar. Seria um pecado.

(silêncio)

- E uma maçã do amor? De tempos em tempos é bom!

- Vish dr. ... Isso aí me deu uma dor danada.

- De dente?

- Não, no peito!

- Homem, já tive isso! Às vezes o caramelo desce rasgando pelo esôfago. Horrível!

- Num é?!

- Mas e um sonho então? Vai dizer que não é bom?

- Dr. Galeno, se eu lhe disser que não vejo um desses há décadas?

- Preocupante! Vou receitar-lhe algo mais compatível com a tua situação.

(rabisca aqui, rabisca ali)

- Tome! Isso aqui não deve lhe fazer mal. Ademais, desconfio que já esteja até bastante acostumado.

(leio os garranchos com certa dificuldade)

- Suspiros???

- Suspiros. E volte em dois meses pra gente checar essas taxas de novo!