O DESAFINADO SALVOU O MEU DIA

O mochileiro fazia uma viagem solitária pela Europa, em 1987. Já tinha percorrido uns 7 países ao longo do mês e resolveu ir para Londres. Talvez pelo cansaço, talvez pelas tantas informações recebidas, talvez pelo falta de calor humano de lá, ficou em depressão na hotel. Saiu pelas ruas e tudo parecia arisco e esquisito, deu vontade de pegar o avião de volta. Resolveu conhecer o Metrô. No alto da escadaria, tinha um senhor tocando Desafinado, do Tom Jobim, no saxofone. As pessoas passavam por ele como se fosse um fantasma, não davam a menor atenção. Mas o mochileiro parou e ficou escutando até o final, apagando todos os demais sons em volta. Lágrimas escorreram pelos seus dois olhos, dissipando toda solidão e angústia que assolava impunemente. Deixou uma moeda no chapéu do saxofonista e foi em frente na empreitada. A melodia o levou de volta ao berço, à alegria e à energia únicas do saudoso Brasil, que naquela hora vibrou mais forte do que nunca na sua alma. Eu era aquele mochileiro de 30 anos e o velho saxofonista salvou o meu dia.