Carta nada-secreta para esse amor quase apoteótico.

05/08/23

Dez dias para o seu aniversário. Que diferença isso faz pro texto? Simplesmente não faz. Talvez, intimamente, eu quisesse fazer um diário e essa frase soou certeira para iniciá-lo.

Mas só quero dizer que estive com você sem dizer “meu Deus, eu estava com ele” (emoji de corações nos olhos). Sem dizer que ele é lindo (você é lindo). Sem dizer que eu sinto o cheiro dele ainda e que, honestamente, poderia me deixar flutuar e ser guiada por esse perfume assim como nos desenhos animados. Por algumas horas, eu esqueci da dor que sinto, esqueci que nem ia sair de casa porque não estava me sentindo apresentável ( leia-se “bonita”, e com “bonita” leia-se “meu cabelo bonito”). Mas tudo estava em desordem em mim, inclusive o rosto. Me sentia uma pintura de Picasso. Nesse contexto, definitivamente não é um elogio.

Naquele momento, eu esqueci que tudo isso é de uma futilidade imensa. E que você estava comigo, mesmo que eu estivesse com o cabelo mais traidor do mundo. Percebi agora que mal consigo escrever porque pela primeira vez eu não estou pensando em mil coisas, e sim em você. Travei diante do atípico, embora eu mesma seja. Antes, você se destacava diante do caos que é a minha cabeça. Agora, pelo menos agora, eu só penso no que acabou de ocorrer. Em você existindo. Porque às vezes eu acho que você não existe. Mas daí eu lembro que existe e que não pode existir numa realidade que me permite pegar na sua mão. Poderíamos ser uma versão de “A Criação de Adão”, de Michelangelo, onde nós tentamos nos tocar mesmo sabendo que isso é humanamente impossível. Talvez eu não queira ser humana, então, talvez queira ser qualquer criatura que possa se utilizar desse amor apoteótico. Ou não. Talvez nossa pintura não seja essa tão metafísica assim, talvez seja “O Beijo”- de Klimt. É um retrato perfeito da paixão imortalizada num beijo-fusão. É certamente uma referência presente nas cenas de Pedro e Ana, em “Romance”, o filme que pretensiosamente te indiquei. Mas juro que a pretensão é só a de arriscar a chance de você gostar do filme a ponto que virar o “nosso Romance”. Guel Arraes que me perdoe, mas aquilo deixou de ser dele para ser meu. Se você quiser, é seu também.

Sei que esses sentimentos eu nem deveria ter, porém não nego. É estranho. Dói porque eu não posso exigir nada do tempo, do destino, de você, de mim. E eu nunca quis que você fosse meu, mas do momento eu quero. Porque, nos momentos, a gente não é só da gente.

Não, chega, desisto de escrever. Tudo pra dizer que se nos fosse permitido ( não que não seja), eu gostaria mais-que-demais de você. Que vontade de usar a palavra-mistério da vida, embora a vida em si já seja um mistério, queria dizer que te amaria com a mesma facilidade que te gosto. Porque hoje eu amei. E o amanhã não existe. Então o verbo é presente, porque o sentimento acontece no agora. E é bom que não faça sentido, pois nada disso tem razão, eu sei. Existe uma parte que pesa e pondera, mas também existe a parte que delira. A emoção é o delírio socialmente aceito. Não conheço, nesse meu desconhecer das coisas, uma outra palavra que não seja amor para descrever essa paixão que se renova a cada vinda minha. E que não vai embora a cada ida. Quando eu te vi, hoje, automaticamente todas as outras pessoas recolheram-se aos seus míseros e merecidos lugares de “outros”. Eu juro que, por alguns instantes, tive coragem. E isso é raro. Eu sei que era pra eu estar com você, do jeito que foi e do jeito que precisou ser. Mas não vou dizer que não é tristíssimo que tudo acabe antes de começar. E que diante de tudo que há de bom que poderia ser uma certeza, a distância é a única coisa certa em minha vida. Mas que me desconcerta tanto que eu não sei se todos os espelhos do mundo estão trincados ou é a minha imagem que de desintegrou da alma há tanto tempo que só me enxergo em estilhaços.

Se eu pudesse, eu gostaria de você sem os filtros da razão ( sim, eu tenho alguns).

Eu não sabia exatamente qual era o sentimento dele por mim, o que nunca me impediu de dizer e de sentir esse gostar tão profundo que só poderia ser por ele. Em outras palavras, sou muito romântica.