Tinta dos Enganos

Comecei a assumir meus erros sem colocar a culpa em coisas que não têm nada a ver.

Era uma vez, em tempos idos, quando o sol se punha ao horizonte e a penumbra se estendia sobre a terra, que eu me vi em uma profunda reflexão. Sentado sob a luz trêmula de uma vela, percebi que a vida não é tão simples quanto imaginamos.

Por anos a fio, eu caminhei pela estrada da existência, carregando em minh'alma o peso de meus desatinos e infortúnios. Em meio aos dissabores da vida, sempre prontamente colocava a culpa de meus fracassos em fatores externos, nos astros, nas intempéries do destino ou até mesmo nas ações dos outros.

Tal atitude, contudo, já não me parecia justa. O momento chegara em que a sabedoria ancestral clamava por meu despertar. Decidi enfrentar a verdade, e essa verdade recaía sobre meus próprios atos, escolhas e hesitações.

Admitir que erramos pode ser doloroso, mas é uma jornada necessária para o crescimento e a evolução da alma. Assim, sem mais delongas, comecei a olhar para dentro de mim com olhos sinceros, buscando a origem de meus equívocos.

Aos poucos, percebi que muitas vezes fugi das responsabilidades, buscando refúgio em desculpas esfarrapadas. Quantas vezes não culpei o tempo, o acaso ou a conjuntura? No entanto, eram meus próprios passos que me conduziam a becos sem saída.

Olhando para trás, vi uma trilha de erros e aprendizados. Era como folhear as páginas de um livro empoeirado, repleto de episódios escritos com a tinta dos enganos e da resistência em assumi-los. Mas também encontrei capítulos de superação, momentos em que, finalmente, enfrentei a verdade de frente e recomecei.

Assumir os erros foi como abrir uma janela para o renascimento. Não me despojei do passado, pois este se inscreve em minha essência, mas sim me desvencilhei das amarras que o prendiam ao meu presente.

Hoje, compreendo que não há sabedoria em ignorar nossas falhas e despejar a culpa em terceiros. Cada passo, cada tropeço, faz parte de quem somos e de quem nos tornamos. E assim como a noite cede lugar ao alvorecer, eu abracei a jornada do auto-descobrimento e a aceitação de minhas imperfeições.

Hoje, sob a luz da lua, encontro serenidade em minh'alma. Sem temer o que está escondido nas sombras, caminho com a certeza de que errar é humano, mas reconhecer e aprender com os próprios erros é o que nos torna verdadeiramente sábios.

Que este testemunho sirva como lembrança e lição para todos que se deparam com as encruzilhadas da vida. Não olhe para fora em busca de bodes expiatórios, pois a chave para a verdadeira mudança encontra-se dentro de si mesmo. Assuma seus erros, perdoe-se, e permita-se ser o protagonista de sua própria história.