Seguidores

Tudo é questão de ângulo de visão e disso ninguém duvida. Antes do advento das redes sociais era um terror ser seguido e assim permanece nos dias de hoje no sentido persecutório da palavra, ter sua privacidade invadida, cerceada, ser stalkeada (sim, virou neologismo). Nem filhos adolescentes querem ser “seguidos” de perto pelos próprios pais, no entanto amam ter centenas ou milhares de seguidores em todas as plataformas que participam, afinal, visualizações de conteúdo podem até ser monetizadas. É literalmente o outro lado da moeda.

Hoje os quinze minutos de fama que preconizou o artista Andy Warhol podem ser bastante prolongados conforme o jogo de cintura da celebridade (ou até durar menos se for “cancelado”). Mas se durar muito, o famoso dentro ou fora da internet não costuma apreciar nada a presença de paparazzi e fofoqueiros de plantão durante seus momentos de relaxamento e lazer, deseja ter o seu espaço sem ser incomodado. Para tanto, contrata seguranças musculosos e até dublês, dizem as más línguas. Nessas horas ninguém quer ser seguido de forma que só a “biografia autorizada” seja divulgada, jamais os deslizes e erros que invariavelmente todo mundo comete. E mesmo que não implique em ação condenável, querem sentir-se pessoas normais que viajam e saem com a família com privacidade. Algumas celebridades, artistas ou políticos, conseguem ter êxito na estrita divulgação da vida cor-de-rosa, outros falham fragorosamente rendendo manchetes escandalosas em todas as mídias possíveis. São ossos do ofício e eles que defendam seus direitos, mesmo porque ninguém pode ter o melhor de ambos os mundos, sossego e felicidade junto com a fama. Lembro-me de Christina Onassis, filha do armador grego Aristóteles Onassis, que, dentro de sua vida luxuosa, sofria golpe em cima de golpe, não tinha paz, vindo a morrer muito jovem.

Tudo que sei é que já não atemoriza tanto a famosa frase dos filmes de ação:

- Estamos sendo seguidos!

Pode ser algo pra lá de bom sermos seguidos quando nos interessar.

A maioria das pessoas quer ter seu espaço de manifestação, seja um artista ou não, para tornar-se conhecido e ser ouvido. Antes era possível alguém nascer, viver e morrer no mesmo canto incógnito, agora todos recebem a chance de expor seu pensamento e mostrar o que sabe fazer melhor e ter seguidores, não importando o raio de ação. Outro dia até uma criança bem pequena surgiu num vídeo caseiro entoando uma música do cantor Lulu Santos e simulou tocar uma guitarra. Dentro de poucas horas localizaram o cantor e já alinhavaram a participação do pequeno fã junto com seus pais em um show de Lulu Santos. Nada contra, mas haja comunicação veloz, não é?

O segredo, a meu ver, está na calibragem da exposição, já que a quantidade de seguidores (e pretensos admiradores) nem sempre indica positividade e prosperidade. A palavra é prata, mas o silêncio é ouro, modular os dois é preciso.