LARGO DO CARMO

Nosso grupo, chamado de Clube do Camelo, é uma banda formada por dez profissionais liberais de diferentes áreas, compositores e músicos por vocação e sobre a qual já falei em outras crônicas, também postadas no recanto das letras.

O Largo do Carmo é uma praça da Cidade Velha em Belém do Pará, com casarões centenários e um colégio também datado da criação da cidade.

Lá, em algum lugar do tempo foi realizado um show com artistas nacionais renomados, entremeados com artistas da terra, patrocinado pela prefeitura da cidade.

Como tínhamos um certo prestígio em Belém, fomos contratados para ser a última banda (antigamente era conjunto) a se apresentar em uma mostra da Bienal de Música.

Preparamos o repertório. Chamamos o maestro Tynnôko, ensaiamos, ensaiamos e no dia lá estávamos, às onze da noite, prontos para a apresentação.

Cada banda tinha trinta minutos para se exibir e, como de costume, estava tudo atrasado. Esperamos mais uma banda e a uma da manhã começou o Altamiro Carrilho, com sua flauta, que nos antecederia. Assistimos extasiados e, quando pensávamos que era o final, o público que lotava a praça aplaudiu, inclusive nós, pedindo bis.

Queríamos mais, pois afinal era o Altamiro Carrilho. O homem continuou mais quinze minutos, meia hora, uma hora e o público saindo e nós preocupados. Os poucos que ficaram nem mais batiam palmas. E o homem continuava! E o povo saía!...

Para encurtar a conversa, às três e meia da madrugada subimos ao palco, já com muito pouca gente na praça, e o pessoal da prefeitura, encarregado do som, não conseguia fazer soar o teclado do Tynnôko. Acho que era o costume de tanto ouvir flauta que não aceitava mais o som do teclado.

Às quatro começamos a tocar com todo o gás, escutando o som perfeitamente. Só os que não ouviam eram os que estavam na praça, pois as grandes caixas de som direcionadas ao público estavam mudas.

Tocamos assim mesmo, afinal tínhamos sido pagos pra isso. E fomos aplaudidos, não sei por que milagre, pelas três famílias perseverantes que ficaram até o fim. E nem eram parentes nossos!