SOU NEGRO

POUCAS vezes fui entrevistado pelos recenseadores do IBGE. Nesse último senso também não fui procurado. Das vezes que fui entrevistado me declarei negro. Os entrevistadores sempre ponderaram que seria pardo. Discordei veementemente. Acho essa classificação um absurdo. As pessoas são brancas, negras, mulatas, caboclos, indígenas e concordo amarelos. Se houvesse a classificação mulato ou moreno eu talvez concordasse. Mas, na verdade, me considero negro. Com muito orgulho.

Sei que há no país uma espécie de patrulha do politicamente correto. Acho uma babaquice. Essa cultura cassou o mulato, o caboclo e o moreno. Parece aqueles obtusos da ditadura que cassaram a palavra camponês substituindo-a por rurícola. Vejam bem, acho pardo uma palavra de mau gosto, quase obscena. Pardo é o fim da picada. É um eufemismo para que alguns não se declarem negros.

Não sei o resultado do último censo, mas o de 2021 afirmou que 43 por cento se declararam brancos; 47 por cento, pardos, 9,1 por cento negros e o resto indígenas e amarelos.

Discordo desse resultado, o Brasil tem muito mais negros. Quanto a alta percentagem de pardos teve muitos negros negando a cor de sua pele. Infelizmente.

Estou com Chico Buarque quando diz que somos conhecidos no mundo inteiro como um país de negros.

Eu sou um deles, adoro quando uma jrmã me chama de Negão do Beição. Fico orgulhoso. Juro. William Porto. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 20/06/2023
Código do texto: T7818094
Classificação de conteúdo: seguro