Sobras da poesia

 

 

A poesia é luz que vai deixando a sua sombra, ou a sobra dela, num subsistir na luz encoberta, o seu sol está para além das  nuvens. Um céu em dia cinzento leva a inspiração pelos vales tristes ou muros de felicidade, rotular uma vida desigual, na sua monotonia, no seu tédio existencial, sem ter no que se agarrar, sem contar qual a sua idade para a infelicidade, os olhos sedentos viajam o mundo alheio e diz do outro, o que nem sabe, tudo é abstrato, mesmo o julgamento, mundo real ou falso, a inspiração não precisa de asas, vai arrastando-se mundo à fora, descreve o que nem existe na alma, que seja, vivendo ou criando, a alma sem transparência e ou sem inspiração, consegue ler através de outra alma, de outras letras, sofridas ou não, a sua tradução. Infelizes almas, de lembranças, alma de desesperança, alma adulta no corpo de uma eterna criança, que julga no seu tempo, o que nada o seu mal, cura, talvez nem vá chegar aonde o outro chegou, as lutas são individuais, a força interior está no saber ser... mas a alma sem luz, cética, apegada, alma sem coração, alma com martelo não mão, à bater, à dizer do seu ego, da sua armadura impiedosa, disfarçada de saber, sem de nada saber. Na seca ou na fertilidade, sou uma velha alma inspirada, ultrapassada, porém, apenas alma colhendo a única flor restante no universo, que não se deixou murchar, sou nuvem clara que por si só brilha, a própria inspiração sem se espelhar na poesia do outro... vou, à revelia, e mesmo com os meus olhos de nada, adentro o mar, e resta-me nadar, depois voo para os céus, canto, e o amor canta, escreve sem notar outras vidas, inspiração que flui naturalmente sem importa-se se será espelho ou semente, apenas semeia e vai... Olhos de poesia esses que habita modestamente em mim, passeiam livres pelos lugares mais simples e de incríveis delicados detalhes, onde uma florzinha caída em cima da grama, ou uma pedra jogada num canto, contrasta, e dá mais vida às cores que ilumina, e ao olhar sempre o céu, sonha, se ilude e o amor interioriza, a ele se entrega, corpo e alma, sem tempo para escutar nada além do próprio falar, pois amar é assim, amar por amar, é este o meu destino.

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 13/06/2023
Código do texto: T7812800
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