PURO SAUDOSISMO

Cá estou a relembrar histórias a contar da minha trajetória. Foi breve é verdade, mas posso dizer, intensamente. Sinto saudades dos tempos em que eu era a vedete, todos me desejavam, queriam me tocar de qualquer forma. Nossa! Lembro que havia alguns mais afoitos. Sabe aqueles nervosinhos que as vezes nem sabiam direito onde colocar os dedos, chegavam a tremer de tanta ansiedade, estes infelizmente me deixavam dolorida. Outros, eram mais carinhosos. Seus toques dedilhavam sobre o meu corpo como se estivesse afinando um sensível violino, me deixando em puro êxtase. Meu pulsar em batidas cadenciadas agradecia esta sinergia. Me sinto emocionada, mas prometo não chorar, pois muito tenho a contar.

E nas rodas de conversa, hem... quantas vezes ouvia opiniões várias acerca da minha eficiência. Eu era indispensável para determinados grupos de pessoas, insubstituível. Muitos me convidavam para visitar a sua casa, o seu apartamento, mas sempre procurei me manter no meu lugar. Sabia que muitos daqueles convites existia um interesse funesto. Muitas daquelas pessoas de quem recebera convites para uma visitinha eram compromissadas se é que entendem e eu não queria ser instrumento de discórdia. Eu sempre desejei uma vida liberta, não libertina, onde pudesse ajudar aquelas pessoas que de mim necessitassem, mesmo porque esta era a minha sina, ajudar sem olhar a quem.

Pois é, hoje nesta sala solitária relembrando a minha juventude, com o peso da idade, vejo que valeu a pena esta convivência que tive com aquelas pessoas que me conheceram, conviveram comigo, me tocaram, me acariciaram. Ainda sinto arrepios pensando nos toques, nas paixões, nas desilusões, sim, porque também tive desilusões. Imaginava que todas as pessoas do meu convívio manteriam sua fidelidade para comigo, ledo engano. Da noite para o dia surgiu um tal de PC, todo desengonçado, metido a galanteador, prometendo maravilhas mil e aquelas pessoas que se diziam que me amavam, não viviam sem a minha companhia, me traíram copiosamente sem culpa nenhuma. Sempre ouvira falar de que amor sem fidelidade não é amor, é paixão. Então o que houve entre nós foi paixão? Admito que fui muito ingênua.

Não me restando alternativa, senti-me obrigada a me afastar de todos ou quase todos, pois tenho percebido algumas pessoinhas fazendo sua mea-culpa. Sorrateiramente estão tentando se aproximar de mim, mas estou em dúvida se aceito esta reaproximação, afinal o meu orgulho foi violentamente ferido. Preciso de um tempo para pensar. Minha cabeça está um turbilhão, nunca imaginei vivenciar tal momento de dúvida, mas por outro lado ficar guardando mágoas não é bom para ninguém em especial para mim que tanto servi...

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 17/03/23

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 17/03/2023
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