A passagem sobe

Há coisas sazonais, como a primavera, a gripe, o pinhão e o aumento da passagem de ônibus. Chegou a época de subir a passagem aqui em Curitiba e a prefeitura lamenta profundamente que a população ainda não tenha se acostumado com isso. É claro que a prefeitura sabe que a palavra “aumento” assusta e provoca calafrios, então, pensando na saúde dos trabalhadores, ela apresentou a novidade como “atualização”, ou seja, uma mera questão burocrática.

A prefeitura esclareceu que o aumento era necessário para garantir o equilíbrio financeiro. A prefeitura é muito preocupada com o equilíbrio financeiro, porque ela tem contas a prestar e, se não prestar bem direitinho, coisas horríveis podem acontecer – até um impeachment! Para que a prefeitura garanta o equilíbrio financeiro, é fundamental que o cidadão perca o seu.

Também foi explicado que, sem esse aumento, o sistema pode parar – Deus nos livre! Para que o sistema de transporte coletivo não tenha que parar, a solução é fazer com que mais pessoas parem de usar o sistema de transporte coletivo. A tarifa sobe, os usuários diminuem, a tarifa sobe, os usuários diminuem... – a esse ciclo chamam de “não fazer o sistema parar”.

O prefeito, muito tímido, evita falar sobre o assunto, mas também é improvável que tivesse algo a acrescentar, posto que, como todo político, só conhece os ônibus por ouvir dizer. O que incomoda mesmo o prefeito é quando alguém lembra que em Araucária, aqui do lado, o valor da passagem caiu recentemente para R$ 1,50. Muito católico, o prefeito acusa: “Bruxaria!”.

A expectativa dos mandatários na cidade, porém, é que em três ou quatro dias tudo se estabilize novamente, isto é: a população pare de reclamar, pague direitinho a nova tarifa e ninguém mais precise se preocupar com essa coisa aborrecida que são os ônibus. Com tanto serviço por aplicativo por aí, ainda tem gente querendo andar de ônibus? Faça-me o favor.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 07/03/2023
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