NOTAS VERMELHAS

Notas vermelhas

Hoje, depois de adulto, ainda me lembro de uma professora que tive. Era linda! Seus olhos quando olhava-nos, resplandecia a luz do saber e um mundo cheio de mistérios a serem desvendados; sua voz era flores que incessavam meus ouvidos donde a mais olorosa era a Rosa.A Rosa me fazia navegar pelos mares do saber e me enchia de luz a mente, e todo bimestre era:

--- Esse é o melhor aluno que tenho.

Distinção e afagos que me fazia sonhar.Eu já amava e não sabia.

Um dia, eu ia dar-lhe um afago em forma de bombom de chocolate com invólucro de papel laminado e crepon, e um coração escrito assim "Sonho de Valsa" e com certeza receberia também um afago seu antes do sino tocar.Ela estava sentada na sala dos professores e tinha um homem alto, moreno claro queimado do Sol; um velho de uns vinte e pouco:

--- Obrigada, meu anjo - entreguei-lhe o bombom - este, Rodrigo, é o meu melhor aluno, o mais fofo...

--- Olá, rapaz.Tudo bom?...Tá bom, Rosa, eu vou indo antes que toque a sineta pra não te atrapalhar.

---Tá bom, amor.Em casa a gente se fala.

Beijaram-se eu vi . Meus sonhos desvaneceram-se assim o saber que para mim transformou-se em fumaça de escape que nos asfixia; aquele céu outrora azul tornara-se lama pura no momento, pura podridão, asco, o escuro do esgoto, e, naquela resplandecência, brusca revelação, de um amor que eu não contava eu me perdi em notas vermelhas.

Porto Velho 17/04/2016