O GRANDE MICO
Surpreendi-me ao ouvir o sonho erótico da minha nova namorada:
------ O meu sonho erótico é ficar um dia inteiro só eu e você numa ilha deserta!
Então,saímos de Cajazeiras,800 Kms até João Pessoa.
Sendo de origem de pescadores,lembrei-me de alguns amigos que tinham barco.Em especial,do meu amigo Zé Antônio ,gente fina,rústico,mas,excelente pessoa.Só não podia tomar umas lapadas de cachaça que perdia o controle.Passava dias bebendo depois que tomasse a primeira.
Queria fazer uma surpresa para minha nova namorada e tornar o sonho dela uma realidade.
Lembrei-me da Ilha do Sol,uma ilha 5 Kms mar adentro,onde alguns barcos atracam para os marujos poderem secar suas tralhas e depois partirem.Por conta disso é que o nome da ilha é este.
É uma ilha acanhada de mais ou menos uns 500 Mts de um lado ao outro.Provavelmente,o pico de uma montanha submarina.Com um mato rústico formando,ás vezes,touceiras e,lá no canto,um esguio pé de coco que de sombra nada oferecia,porque,era muito alto.
Chegando em João Pessoa,fizemos ponto base na casa dos meus pais para podermos nos preparar para o dia seguinte.Compramos uma caixa grande de isopor, refrigentantes,cervejas, frutas,sanduíches,quatro litros de água em garrafas Pet e dois litros de rum.
Colocamos tudo dentro do isopor cheio de gelo e pegamos uma sacola com toalhas,bronzeadores,filtro solar,escova e outras tralhas e partimos para pegar o barco.
Chegando ao porto de Manaíra,vi,logo,de longe,o Zé Antonio conversando com alguns camaradas.Fiz um aceno e,ele veio.
Fui logo entrando no assunto e ele disse:
------Faço por vinte,doutor.
O meu erro foi pagar logo ao Zé Antônio.Esqueci-me,completamente,do problema de alcoolismo do Zé.
Partimos e a praia foi ficando pequena.
De início,a minha namorada nova não se acostumou com a luta constante do casco do barco contra as ondas que causa aquele impacto e,consequentemente,vem o enjoo.
Ela ficou pálida,passou mal e daqui a pouco,quando ela colocava o café da manhã pra fora,O Zé Antônio grita:
-------Chegamos!
Foi aí,que ela levantou a cabeça e ficou um pouco mais alegre.
Atracamos na ilha e tratamos logo de estender as toalhas na areia.
Olhamos para trás.O mar revolto,como um gigante raivoso, de vez em quando se revolvia mostrando-nos uma névoa no horinzonte,indicando que era o litoral,mas,normalmente,não era nosso privilégio.
Era mais ou menos meio-dia de um domingo ensolarado:
------ Vai vir pegar a gente de 5 horas,né Zé?
------ Vou tá aqui antes disso!
Respondeu Zé,e se foi de volta por entre as ondas.
Nos amamos feito animal no cio.Esquecemos do tempo.
O Sol começou a cair e uma brisa fria começou a ventar.
Olhei no visor do celular e vi quatro e meia.
-------Cuidado que daqui a pouco o Zé aparece no meio dessas ondas!
Deu 5,6,7,8.Estava um breu.Só ouvíamos o barulho ensurdecedor das ondas contra a praia e Nada do Zé.
Tentei várias vezes pelo celular e nada.
Começou a cair um temporal daqueles com raios e trovões.Deitamos cobertos pelas toalhas para não sermos atingidos.
Deu 9,10,11...De duas horas da madrugada o aguaceiro passou.Parecíamos dois pintos molhados e,a minha nova namorada dizia tiritando de tanto frio:
----- Aí....nós vamos morrer!
Enquanto eu tratava de acalmá-la,dizendo que alí passava muitos barcos e que apareceria alguém na manhã seguinte...Nada.
6,7,8,9 horas e eu já comecei a me preocupar.
O que sobrara da farra,fora apenas um litro de rum.
10 horas e alguns minutos da manhã apareceu o negro Zé Pequeno pilotando o barco do Zé Antônio ,dizendo:
------Aquele irresponsável se meteu na cachaça e deixou vocês aqui.Vi ontem quando vocês saíram com ele e hoje de manhã encontrei com ele morto de bebo.Em conversa,ele me disse que tinha deixado vocês aqui e vim pegar vocês dois.
Ah!...Meu coração se aliviou!Nesta hora tomei quase o litro de rum todinho de tanta alegria.
Voltamos,graças à Deus!Chegando ao porto,o porco do Zé Antônio ainda me disse com uma voz entrecortada e embargada pela cachaça:
-------Ic,Ic,Ic,vocês já voltaram,Ic,Ic,Ic?Mas,ainda é tão cedo!Agora que são onze horas!
Porto Velho 02/02/2018