Os três poetas.

Atravessei apressadamente a movimentada Atlântica, numa noite chuvosa, perto do Copacabana Palace, e cumprimentei os três magníficos autores brasileiros: Machado de Assis, Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade, que sentados, conversavam animadamente no Bar do Camargo, um grande amigo meu. Os três foram corteses e responderam aos meus efusivos ‘Boa Noite’. Acho que notaram alguma coisa em mim e chamaram-me para participar do bate-papo. Conversamos sobre diversos assuntos. Eu, um pouco apreensivo, perguntei-lhes sobre as suas obras literárias e todos gargalharam. Eu, sem jeito, ri também. Disse-me Machado, o grande analista da alma humana, que ‘Memória Póstumas de Brás Cubas’, seria o seu carro chefe, uma narrativa confusa, contradições, com limites da razão, entre outros. Destacou também ‘Dom Casmurro’, onde Bento e Capitu apaixonam-se, como também a desconfiança de que seu filho, Ezequiel, na verdade, fosse de Escobar, seu amigo. Perguntei então a Guimarães, quais seriam as suas principais obras. Respondeu-me ele ‘Grande Sertão Veredas’, onde Riobaldo e Diadorim são destaques. Um assunto grande e muito interessante, nessa confabulação. O suspense perdura até o final, com a descoberta da feminilidade de Diadorim, a qual é uma mulher. Interpelei Carlos Drummond, sobre suas criações. Eu não fico no ‘Meio do caminho’, mesmo tendo uma pedra. Respondeu-me ele. Confessou-me que gostava das temáticas sobre o cotidiano, universalismo, e modernismo, entre outras. Animadamente depois, de vários copos de chope, fui perguntado sobre meus projetos de vida. Eu dei uma bela risada. Em seguida, em tom provocador, disseram eles: - Essa chuva dá uma boa história. Concentre-se! Então uma chuva brotou dos meus olhos compulsivamente, misturando-se ao amarelo da bebida, pela alegria em participar daquela salutar reunião, à porta de um bar. Acho que eu me perdi em algum momento. Acordei no posto seis, com os primeiros raios solares, em frente ao Drummond, que sem óculos, com olhar penetrante, olhava para mim, como se indagasse, como fora a minha noite. Saí dali esfuziante, apesar de nunca ser apresentado aos três prodigiosos, oficialmente. O sonho nos transforma, e nossos caminhos terão que ser sempre livres de percalços.