SOS

- SOS! Help, ayuda, au secours!

Quem no mundo é totalmente autossuficiente? Se alguém disser que é, estará mentindo. Ouso dizer que aqueles que mais alegam não depender de ninguém são os mais frágeis internamente. E quando se fala em ajuda todo mundo logo pensa: é problema de grana. Muitas vezes realmente é, no entanto por mais que o dinheiro facilite o acesso a todas as coisas, não garante coisa alguma. Saúde, amor e amizade então, é uma tríade incorruptível, quem tenta comprá-la fracassa fragorosamente.

A ajuda tem muitas faces partindo da moral, passando pela financeira desembocando na espiritual, mas não necessariamente nessa ordem. Eu mesma já me confessei numa igreja em Paris sem saber falar francês direito com um padre que só falava francês. Falei mesclando vários idiomas, gesticulei em meio a lágrimas e soluços e no final saí mais leve que uma pluma. Entendi uns trinta por cento do que o pároco me aconselhou, mas só de receber a acolhida escutando o tom sereno tão peculiar aos padres me deu alma nova (sem trocadilho). Minha amiga Rô nunca vai me deixar mentir, ela ficou aguardando enquanto eu tentava desabafar nessa situação pra lá de peculiar. Até um olhar carinhoso e cúmplice ajuda, mímica ajuda, um telefonema e até uma mensagem solidária de texto pode confortar sinalizando “Estou aqui para você, saiba que não está sozinho.”

Ajuda pode ser força de trabalho como nos mutirões para pintar uma casa ou executar outras tarefas de porte conforme vários casos que já tive notícia (e que sempre acabam num churrascão ou piquenique animado), uma visita num momento de tristeza em que às vezes as palavras não importam, e sim a presença, o calor humano. Inclusive a pessoa pode desabafar ou não conforme o temperamento de cada um, afinal já consolei pessoas sem saber até hoje o motivo dos seus males. Também fui consolada sem precisar declarar a razão, mas fui compreendida através da empatia. Palavra linda e mágica a tal da empatia! Em tempos de “time is money” doar seu tempo tem valor intrínseco e extrínseco. - Deus lhe pague, dizem os mais fervorosos. Creio que Deus dê em dobro sim, mas quando duas mãos se unem a energia flui em ambos os corpos, também creio em fluidos energéticos que ultrapassam distâncias. A vida dá em dobro também para quem não professa alguma fé, acho que o auxílio gera um círculo do bem sendo que o cinema e a literatura são pródigos em exemplos do efeito bumerangue de se fazer o bem a conhecidos ou desconhecidos. Só quem já experimentou sabe o poder curativo da escuta ativa. Sem julgamentos, lições de moral nem muito menos promessas, só doação sem nada pedir em troca. Quem faz isso não é um espírito de luz nem um santo encarnado, é gente com G maiúsculo. E não esqueça que cobrar reciprocidade da ajuda é uma furada, quase nunca o bem vem da fonte que plantamos, e sim de onde menos se espera. Por isso devemos espalhar nossas sementes de afeto aos quatro ventos como os passarinhos já que não sabemos qual será o terreno fértil onde vão vingar, esse é meu lema. O que vier é lucro, mas é certo que virá.

Por fim, a autoajuda, que é tema que vende como água quando bem escrito em livros que transformam seus autores em celebridades riquíssimas, no fundo baseia-se nos pilares do bom senso e da racionalidade procurando afastar a impulsividade do olho do furacão para que essa pessoa emerja mais forte e ressignifique suas emoções a fim de que trabalhem a seu favor ao invés de escravizá-la. Essa virada de chave que buscamos, a ajuda a si próprio sem repelir a ajuda sincera das pessoas que nos cercam, é sem dúvida uma das receitas certeiras para uma vida feliz.