Lâmpada e Luz

Observei ao longe uma lâmpada, ela estava acesa e emitia fulgor. Não havia ninguém próximo a ela, nenhuma viva alma a desfrutar da sua bondosa claridade e não existia por perto quem se banhasse aos raios de luz que aquela lâmpada jogava ao léu. Bem que ela era uma lâmpada ativa, gesticulando muito, convidando a todos os seres para deleitarem da sua generosa oferta, claridade. Observei-a curioso, oculto na escuridão do lugar onde eu, podendo vê-la, não chamaria a atenção para mim. Como um farol brilhando na noite escura, ela continuou chamando, acenando, numa inútil sedução. Ninguém vinha para ela.

De longe era possível ver a lâmpada convidando, chamando quem quer que fosse para perto, nem precisaria colocar-se debaixo do clarão, a lâmpada se sentiria realizada se pudesse iluminar qualquer pessoa, qualquer ser vivo, dotado do sentido da visão, bastaria poder aproximar-se saindo da escuridão, que a lâmpada sentiria que sua existência teria valido a pena. Mas nenhum animal vinha dar-lhe razão de ser, nem racional nem irracional. Não havia som de vida e nem movimento, apenas o horizonte vasto sem ninguém. Qualquer um podendo olhar de um ponto distante no horizonte, a enxergaria e poderia vir fugindo das trevas.

A luz não conversava com o negrume, sempre foram inimigos e sempre serão, e em qualquer lugar em que houver filhos da luz, o véu negro do abismo se fará ausente. E onde a treva estiver reinando, as luminárias não darão o clarão das suas graças. Impossível estarem as duas coisas no mesmo espaço... e eu, sabendo disso, não queria me aproximar da luz, nem permanecer na escuridão, fiquei escondido na penumbra, entre o alcance da claridade e o toque da negrura absoluta. Fiquei parado, completamente imóvel, sentindo o farfalhar da cópula do dilúculo sobre a natureza inerte.

A cintilação solitária da lâmpada era triste, eu a observei e não me aproximei. Tive ímpetos de me jogar sob a sabedoria luzidia, sob o conforto do lugar iluminado, mas esperei por outro ser que se aventurasse a atender o convite do facho iluminador ofertante de proteção e de alívio. O resplendor em torno de si era o suficiente para compará-la ao próprio sol, porem sem calor. Era somente luz, fonte de lucilação, permanente estado de glória. Eu permaneci distante, fora das trevas absolutas, ainda assim, distante do reluzente lume, não queria expor sob aquela resplandecência, todas as minhas imperfeições, 

Paulo Siuves
Enviado por Paulo Siuves em 02/01/2023
Código do texto: T7685287
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