Como meu coração bate

Meu coração é inocente e bobo como a maioria dos corações por aí que não medem consequências. Minha mente bem que tenta comandá-lo e assim evitar que ele (e eu) se lasque, mas meu coração é quase um ente isolado: teimoso, impulsivo, imediatista e nada inteligente. Aliás, da inteligência emocional passa a léguas de distância. Já cogitei ser carência e não é, altruísmo também não é propriamente o caso do meu “povero cuore”, acho que é kamikase como digo num poema que fiz. Se já fiz alguém sofrer, e sei que já fiz, não foi intencional, mas muitos machucaram “my poor heart” sem querer ou mesmo por querer, mas meu coração tem memória curta, ele perdoa até quando não deveria, deixando o sistema todo vulnerável. Dessa forma, pensam que eu sou tola enquanto o tolo é ele.

Quando para mim está claro e evidente que algo vai acabar mal, muitas vezes o coração pensa exatamente o oposto e me arrasta a lugares aonde não quero ir, que não é prudente ir, mas o coração quer nadar além da arrebentação, afinal, banhar-se com baldinho na beira da praia é altamente sem graça, ele pensa. Daí, se afoga repetidamente com o mar bravo e lá vou eu junto. Ele deve achar que não precisa pensar, pois essa função é do cérebro, mas considero egoísmo. O coração deveria usar uma coleira feito cãozinho levado para que eu o puxasse quando enveredasse por caminhos não recomendáveis ou perigosos, mas ele é incontrolável. Temos a mesma idade biológica, mas como ele pode ser tão imaturo? Nem Pavlov daria jeito nele, pois creio que choques e recompensas não teriam êxito em adestrar meu coração já que ele é quase um crossfiteiro, ama esportes radicais com emoções fortes. Eu que lute!

Parece que ele gosta de ser flechado pelo cupido e não sente dor quando é atingido, até gosta. Sabe o porquê? Porque jorra adrenalina, serotonina e outras ninas que o deixam fissurado e acreditando em todas as baboseiras que lhe contam. Conto do vigário é música para ele, não enxerga nada. O cérebro manda milhares de mensagens pelo whatsapp da corrente sanguínea dizendo: - Cara, acorda, se liga que é fria! Mas o coração só visualiza e o deixa no vácuo. Chama-o de enjoado e controlador. Quanta inconsequência, meu Deus. Eu não consigo contrariá-lo como gostaria enquanto ele curte seus devaneios. Quero dormir, ele quer fazer planos noite adentro. Coração, quero sonhar dormindo, não acordada, meu Deus! Quando encontra outro coração menos bem intencionado ele nem desconfia, acredita, se entrega, defende, luta e até dá bronca em quem tenta advertir que ele está se iludindo, sua teoria é a de que viver só vale a pensa se for de modo intenso. Ele me pergunta para que serve o medo, eu respondo que é para nos proteger do sofrimento. Ele acha que eu e o cérebro somos covardes e que ele é muito mais feliz do que nós.

Mas no fundo morro de pena quando ele cai do cavalo, coitado. Fica cabisbaixo, amuado, triste e arrependido. Vai para um canto, derrama algumas lágrimas, até pragueja um pouco botando a culpa na sorte. Não dá uma semana e ele começa a fazer tudo errado de novo, mas eu já me acostumei, não tem jeito não.