Águas Convergentes

Ela sempre chega, bipolar e enlouquecida. Irremediavelmente vem arrasando, senão no começo, às vezes no final. E quando digo arrasando é no sentido de destruir, deitar por terra sonhos e planejamentos de vidas inteiras, sem aviso prévio.

Falo daquela imutável, certeira e constante, que jamais falha nem se engana de caminho.

Que não pode ser parada, desviada, nem tampouco finalizada antes do seu tempo.

Ela é a primavera e nós somos o Estado onde todas as águas se encontram. Fica até difícil admirar as belezas cantadas pelos poetas quando falam das flores, das cores, dos amores inspirados por ela que traz aquela chuva gaiata e acaba se instalando, ficando abusada.

Uma chuva nem sempre necessária, que briga com nesgas de céu azul, fazendo o pálido sol envergonhar-se e esconder-se. Ano após ano, ela se apresenta, bela como só ela sabe ser, cantada em versos e prosas, impiedosa como uma megera de conto de fadas.

Aqui temos um Estado de grande miscigenação, invejado por muitos, considerado rico e privilegiado. Por aqui temos todas as nuances possíveis deste mundão de meu Deus, aqui todas as águas convergem, desembocam e transbordam. Também temos o inferno e paz, muitas alegrias e tristezas, belezas e feiuras. Afundamos em lama e água, entretanto, somos valentes, resiliência é nosso nome, sempre voltamos à tona dispostos a recomeçar, porque desistir nunca é cogitado. Temos de tudo e tanto que somos invejados e o resto do país gostaria de morar aqui.

Temos verões sensacionais com praias paradisíacas, muito sol e boa comida.

Temos os invernos rigorosos, frio enregelante e neve, lugares de conto de fadas para encher os olhos de quem sabe apreciar as belezas da natureza.

Temos campos verdes, mares azuis, pinheiros e pinhões, carvão também, temos, inclusive, o melhor melaço do mundo e nada é tão nosso quanto o excesso das águas. Dividimos um fado que piora ano após ano quando temos a nítida impressão que metade do Estado naufragará e se desprendendo de seus vizinhos, flutuará em direção à Patagônia, cada vez mais para baixo, mais para baixo…

Solidariedade se faz presente quando o povo, pedindo, implorando e agradecendo com mãos estendidas que não são deixadas vazias, recomeça num eterno ciclo feito redemoinho.

Apelamos ao alto, pedimos clemência à padroeira com os joelhos por terra e prosseguimos sem perder a fé em dias melhores.

Somos isso, feitos de formosuras mil, competindo com os nordestinos no quesito fortaleza e valentia, cansamos sim, porém, fraquejar jamais.

 

 

 

Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 28/12/2022
Reeditado em 14/01/2023
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