A VIAGEM DE PAPAI
Não sei precisar minha idade à época. Devia ter dez ou onze anos. Foi bem no final dos anos 50, quando meu pai foi pela primeira vez a São Paulo visitar seu irmão Wilson que para essa capital havia mudado há alguns anos.
Morávamos, nesse tempo, em Curitibanos, cidade do oeste catarinense. Era uma longa, difícil e cansativa viagem, pois não havia linha regular de ônibus dessa cidade para São Paulo. Tinha-se que vir a Curitiba e aqui comprar uma passagem de outra empresa e tomar outro coletivo.
Ele passou uma semana com o irmão e depois tomou o caminho de volta. Meus dois irmãos mais novos e eu estávamos ansiosos, na expectativa dos presentes que iria nos trazer. O terceiro irmão ainda era bebê.
Papai chegou de madrugada, cansado e sonolento pela longa viagem. No outro dia é que pudemos conversar. Em sua bagagem vieram roupas e brinquedos para os meninos e, para mim, uma saia verde escura, plissada, de Tergal e uma camisa branca, tipo polo, de Ban-lon. Alguém aí sabe o que eram Tergal e Ban-lon? Supremas novidades da época, tecidos totalmente sintéticos, sem adição de fibras naturais. Só depois de usá-los é que descobríamos como eram ásperos, desconfortáveis e quentes. Porém tinham a vantagem de não amassar. Era lavar, guardar, usar novamente, e como duravam... Também ganhei uma boneca grande, com longos cabelos louros. Me encantei com seus olhos azuis que abriam e fechavam, e ela chorava de forma muito convincente.
Lá no interior onde morávamos, essas novidades ainda não haviam chegado. Eu, quase adolescente, vaidosa e toda prosa, querendo impressionar as amigas, só queria vestir a roupa nova para sair, e exibir a boneca que ninguém tinha. Coisas de menina-moça.