Janela

O céu cinza que avisto da janela do meu quarto combina com o meu humor sombrio. A tempestade que cai torna tudo ainda mais sinistro. É o cenário ideal para uma mente que não para ficar ainda mais barulhenta e agitada.

Quanto mais olho pela janela, mais a insegurança e o desespero me dominam, como é horrível não estar no controle das situações diárias. Bem eu sei que não podemos controlar tudo, mas isso não muda o fato de como isso me afeta.

A vontade de ficar deitada o dia inteiro, assim, parada, olhando pela janela, sem fazer absolutamente nada é imensa, mas com muito esforço, consigo obrigar o meu corpo a se mexer.

Saio da cama e com movimentos lentos me movo até a cozinha, tomo um café quente que contrasta com a sensação gélida que se apossa de mim.

Me sento no chão da cozinha. A sensação de vazio cada vez mais se apoderando de cada célula. O sentimento é o mesmo de antes, mas agora não olho mais pela janela e para o sinistro céu, mas sim para o meu reflexo no fogão.

O rosto que vejo aparenta cansaço e desespero, parece que apesar de seus vinte e tantos anos já viveu um século inteiro. O que te aconteceu, menina, para você ficar assim? Há quanto tempo perdeu a leveza e a inocência que outrora te dominavam?

Olho à minha volta e tudo está em silêncio, menos a minha mente. Ela nunca se aquieta. Um tremor domina cada pedacinho do meu corpo, uma vontade incontrolável de chorar me domina, mas nem isso eu tenho forças para fazer. Fico mais alguns minutos assim, parada, fitando o meu reflexo. Me obrigo a levantar e volto para a cama.

Continuo a olhar pela janela vendo a chuva cair. Agora a vontade é a de sair lá fora e deixar que a chuva leve todos esses sentimentos com ela. Saio de casa e deixo a chuva me atingir. A sensação gélida dela em minha pele combina exatamente com o meu humor, não é capaz de acalmar a minha tormenta, mas parece se compadecer da minha dor e fica ainda mais violenta.

Entro novamente para a casa e me deito com a roupa molhada, é mais um domingo comum para uma mente agitada.