COISAS INTANGÍVEIS

Algumas coisas são por si só independente de nós. É sempre evidente como o sol surge ao amanhecer e oculta-se à hora crepuscular do ocaso e isso independe de minha interferência e vontade. Em contrapartida, algumas coisas que poderiam ser, aparentemente, dominadas por meu despotismo são em verdade, coisas intangíveis. Pois, como sendo eu, dona de mim não posso exercer de meu poder completo sobre minhas vontades, embora aparentemente estas estejam em meu subjulgo? Ora, se não posso ser além do que sou e me trocar por outra alma/personalidade/estado de consciência, eu não sou de todo uma déspota.

Veja bem: posso escolher objetos comuns, profissões, adjetivar coisas e pensar na infinitude dos números. Mas, não posso ter tudo que quero, controlando de todo meus instintos, nem aprender como um pergaminho em branco pronto para ser tingido. Em algum ponto, eu não tenho totalmente o meu próprio controle.

Mas há de se ver um certo limite de aleatoriedade nas coisas intangíveis, isso é um fato! Embora eu não possa ser uma rainha Sol de mim mesma, o fato de eu me pertencer, me permite diminuir essa aleatoriedade a ponto de aparentar submissão pela organização da racionalidade, que age como um general de guerra, um cientista e também um psicólogo, apta a comandar, entender e resolver da forma menos metafísica possível. Não há na razão motivo para anular a personalidade, mas talvez haja para tornar o homem mais próximo do seu abismo pessoal.