Vivemos em caixinhas

O que eu vejo da janela dos fundos do meu prédio?

Vejo caixinhas,cheias de gente...

Eu também moro numa caixinha, mas não é tão alta, três pavimentos apenas.

Mas olhando assim eu fico imaginando como será a vida dessas pessoas em suas caixinhas?

Gente triste, alegre, recolhidos, enrrustidos, deprimidos.

Religiosos,outros não... evangélicos, católicos,budistas, ateus.

Quem sabe muitos como eu, nem uma coisa,nem outra.

Crianças presas em seus pequenos espaços, brincam com seus pets,não menos infelizes pela falta de liberdade.

Idosos taciturnos que chegam nas janelas, sem nem mesmo abrirem as vidraças..

Talvez por ordem de quem manda por lá; filhos, noras,genros, sei lá...eles ( idosos) ,não mandam mais nada!

Olham pra rua, talvez com saudades daquela casa enorme que passou a vida trabalhando pra construir,mas

que foi vendida pelos filhos, na sua viuvez.

Triste realidade de muitos homens e mulheres idosos dos nossos dias.

Na rua um deserto, a essa hora os poucos carros que circulam, já se recolhem às suas garagens

Nas salas certamente tem uma tv ligada pra distrair os prisioneiros domésticos.

Mulheres preparam o jantar,ou nem isso; pegam o telefone e pedem um Fest food regado a Coca Cola, enquanto na fruteira, frutas se decompondo por falta de uso.

São as novas donas de casa, nada sabem fazer, se criaram assim, tudo pronto,tudo prático.

A saúde? O plano de saúde cobre....

E lá estão eles em suas caixinhas; grandes, pequenas, luxuosas, outras nem tanto.

É a realidade de nossos dias; quem tem uma sacada que dá pra abrir uma cadeira,se conta feliz,muitos nem isso têm.

Outros, mal cabem nas chamadas cozinhas funcionais

Quando um entra o outro precisa sair e se brigar com a balança, nem entra.

Triste realidade ...viver em cubículos projetados pra o lucro da engenharia civil. E agora, todos mascarados, alguns, escondendo a tristeza de viver em "caixinhas".

Texto que escrevi ano passado em plena pandemia.