Quem te fala a verdade, além do teu espelho?

QUEM TE FALA A VERDADE ALÉM DO TEU ESPELHO?

- Espelho, espelho, meu: Existe uma criatura mais reflexiva de que eu?

E o espelho, silencioso, nada responde.

Resolve, por decisão própria e, quem sabe egoísta, deixar que eu reflita mais um pouco...

Torno, inquietamente, a questionar:

- Escutou?

- Espelho, espelho, meu, existe mulher mais reflexiva de que eu?

Após instigação, ele finalmente responde:

- Você está momentaneamente confusa, mas você sabe que eu só falo a verdade, não é advogada metida a filósofa?

- Está disposta a segurar a barra? “Guenta” mais um pouquinho, super girl top das galáxias!!!

Ao que eu respondi, sem hesitar:

-Sim, você sempre foi fiel, sincero, leal e disposto. Acha, justo agora, uma boa, você, logo você, pular fora da minha embarcação, espelho meu?

QUEM TE FALA A VERDADE, ALÉM DO TEU ESPELHO?

E ele iniciou mostrando as rugas mais evidentes na minha face nos últimos dias.

Em seguida, me orientou a subir na balança caseira digital, constatar que tornei a ganhar mais uns quilinhos e que quebrei radicalmente a dieta.

Não bastando, passou um filme de quase 40 anos e as lágrimas caíram copiosa e incontinenti em minha já surrada face.

Sem piedade e misericórdia, quase que robotizada, me fez ler alguns documentos em alta voz e justamente defronte a ele.

Desprovido de coração, ainda sem dó do meu estado emotivo, disse, sem deboche, mas firme:

- Você que pediu! - Tá bom, ou suporta mais, guerreira?

Como um feto, aninhada em um confortável leito, copiosamente já não mais chorava, mas delirava, sussurrava, tentava apagar da mente as imagens vindas dos anos pretéritos, os dramas vivenciados, mas um turbilhão de pensamentos e cenas tomaram conta do meu ser, e, finamente, pude compreender que aquela ferida precisava ser mexida de novo.

A HISTÓRIA DA CASCA DE FERIDAS

Um dia destes, uma criança estava com uma ferida praticamente curada, cascão rijo, pele sem inchaço, dor sob controle, cura iminente e visível. No entanto, uma outra criança, numa desavença banal, mirou a ferida do coleguinha e tirou a casquinha do ferimento do amiguinho.

Ora, a dor voltou a apresentar-se, tivemos que conter um pequeno sangramento, educar com amor e psicologia, colocar curativos, ensinar que não se deve agir daquela forma, pois não é correto nem agradável à vítima, etc.

No entanto, ao ver as cenas, imaginava:

“Já tiraram casquinhas de minhas feridas! Já sangrei e ainda, vez ou outra, sangro, não pouco, mas fortemente por feridas pretéritas. Já tiraram, na tora, valendo, consciente, casquinhas de feridas minhas”.

E COMO SUPERAR AS DORES, ESTANCAR FERIDAS PRATICAMENTE CURADAS, CUIDAR DOS CASCÕES E DAS MARCAS QUE O ESPELHO EXIBE?

Bem, aqui, do outro lado da rede social, há um ser humano. Sim, um ser humano falho, lúcido, consciente de que o espelho exibiu só verdades.

As marcas existem.

As cascas, arrancaram há algum tempo, mas só tomei ciência agora.

O sangue, que não estanca, só iniciou a jorrar pós conhecimento.

Cenas de quase 40 anos passados, como fênix ressurgiram com força, detendo uma mulher quase sessentona num leito, em busca de uma solução eficaz, pois não tem certeza de como agir, mesmo sendo constantemente incentivada a tomar seríssimas atitudes, pois o dano é latente!

POSIÇÃO FETAL? E A FORTALEZA? ACABOU?

Era justamente isto que eu queria dizer, em alto e bom tom:

- Não adianta posar de bam bam bam, pois a vida é valendo e as pessoas estão ocupadas demais para usarem de misericórdia com os seus (e os meus) danos, traumas e dores;

- Engolir e reprimir choros não dá em nada! Expressar é preciso! Extravasar é necessário!

- Navegar é preciso, mesmo que a embarcação não esteja com o “motor” tão potente, mas use equipamentos de segurança, calcule a rota e prossiga a viagem em boa companhia;

- Busque ajuda psicológica, ou até psiquiátrica, se preciso for. Sim, a psicologia é irmã unida da psiquiatria. Um ouve, o outro prescreve, mas escuta antes de prescrever, para saber o tipo de medicação eficaz ao caso concreto;

- Espere as águas turbulentas acalmarem para seguir viagem.

E AS TÁBUAS DAS MARÉS?

Geralmente, olho diariamente a tábua das marés...

Gosto de apreciar o mar bravio.

Costumo, igualmente, apreciar a calmaria, mas o mar bravio me faz refletir melhor.

É que, mesmo bravio, ele precisa ceder, desmanchando-se na praia...

Ah, que profundidade...

Captou?

E QUEM TE DIZ A VERDADE, ALÉM DO TEU ESPELHO?

Te falei que o meu espelho, de início quis me poupar, mas resoluta, roguei que ele dissesse a minha verdade nua e crua, sem arrodeios.

A verdade doeu bastante e sigo sangrando muito...

Sim, sou de verdade. E pessoas, de verdade, sangram.

Epaaaaa:

Não clamo por misericórdia, peninha de leitores e nem de internautas, mas o intuito é mostrar que por trás das redes, há uma vida, um ser humano forte e decidido, mas, por vezes, deitado em posição fetal (um dia podemos estudar sobre este tipo de posição) e buscando suas saídas e superações!

Agora, você será conclamado a refletir comigo. Anote as questões e responda para si mesmo:

- Quem você está ouvindo?

- Não ouça pessoas que te invejam!

- Você filtra bem o quê, e quem você ouve?

- Você computa, diariamente, no final do dia, o que fez, o que agiu, como se comportou, como atuou, buscando melhorias e aperfeiçoamentos?

- Pessoas podem te destruir?

- Pessoas podem destruir os teus sonhos?

- Pessoas podem tripudiar sobre você?

- Elas têm mesmo este poder?

- E, sem têm, como, e em quê circunstâncias, você concedeu tal poder?

- Que tal deletar este poder?

- Com quem você está abrindo a boca?

- Você faz falta, ou é apenas um alicate amolado bastante usual, mas que, vez ou outra, precisa de reparos? Quem leva você ao “mecânico” sem lhe julgar ou lançar em rosto o benefício que lhe proporcionou?

- O seu espelho lhe diz a verdade, ou, se possível, você pediria para ele camuflar a verdade da sua existência?

- Quem, de fato, de verdade, sem filtros, é você?

By Fátima Burégio (defronte ao espelho)