Vivência pandêmica

Vi e vivi muita coisa durante a Pandemia do Covid - 19. No início de março de 2020, a China era um lugar distante, muito longe da minha realidade. Eu ouvia relatos aqui e ali, mas não tinha noção da gravidade do que acontecia, e levava minha filha caçula para uma escola regular, que a duras penas as duas Minha filha e a escola) se adaptavam. Minha filha é uma autista severo, acompanhada por uma professora apoio, e estava incluída.

Fiquei sabendo que a escola suspenderia as aulas por que apareceu o alerta de Pandemia da OMS. Sabia ser necessário mas algo me preocupou - rotinas seriam interrompidas e sabia bem o que isso significava para uma autista severo. Precisei mudar as rotinas da casa para que, com a presença maior da minha filha e minha casa funcionasse bem dentro do possível. Não sabia por quanto tempo. Nesta hora agradeci a pós-graduação em Ensino Estruturado, que se não foi a solução do desafio, me ajudou e ajuda trabalhar com ela até hoje.

Vivi vários dramas pessoais, relacionados a ela, o mais complicado foi a perda da visão do olho direito e o grave comprometimento do olho esquerdo, praticamente só vê vultos. Isso devido à autoagressão... às vezes me pergunto, ou antes, me perguntam - como ainda sou alguém de grande vitalidade e sorriso fácil?

Voltando ao Mundo que girava, do lado de fora, a Pandemia fazia vítimas na China, na Itália... O medo aumentava e a torcida que não chegasse aqui.

Morreu uma empregada doméstica, que os patrões chegaram da Itália com Covid - 19. Lembro-me de ter conversado com uma amiga se ela estava se cuidando e ela me disse que estava em casa e que a empregada estava trabalhando. Me alarmei. Perguntei se a empregada morava com ela e dormia, ela me respondeu: "vem e volta todos os dias". Aí pensei, a empregada precisa trabalhar e a patroa me deu a seguinte resposta " é de cor, mas é muito limpinha e de confiança" -. Nada mudou nesses 130 anos da Abolição! Aliás, ainda vivemos o dia 14 de maio de 1888! A minha amiga sinhá, não podia sobreviver sem a mucama "limpinha e de confiança"!

Quantas se foram, prestando o mesmo serviço com essa Pandemia?

Hoje vivemos as consequências daquele 13 de maio mal arranjado, que soltou escravos ao Deus dará pelo país! Li um meme (forma de comunicação pejorativa de um fato. Dizia em um outdoor que a Princesa assinou a Lei, mas não assinou nossa carteira...

Os escravos de hoje, como dantes, precisam trabalhar para comer, e na Pandemia, sob o risco de vida! Sobre a carteira - que carteira? Viramos empreendedores! Usamos nossas ferramentas, pagamos o combustível e a manutenção e torcemos para não morrer no trabalho e não deixar as dívidas para os herdeiros!

Não sei que fim levou a "limpinha e de confiança" peço a Deus que não esteja entre as quase 700 mil vítimas do Covid, que seu filho não tenha sido outro Miguel, que seu marido não seja um "sequelado" do Covid lutando para sobreviver e ser assistido pela saúde pública.

Enquanto a minha ex- quase amiga, está fazendo campanha para a reeleição do "minto"!