Crônica de uma terça-feira (as mil formas do amor)

Aêêêêêê mais uma terça-feira veio.

Não se engane, eu não estou nada animada, caro leitor. É mais uma forma de dizer que sim, apesar de tudo, de basicamente ser eu, estou aqui, escrevendo.

E justamente pensando sobre o que escrever, eu pensei em escrever sobre o amor. É, o amor. Sei que todo mundo fala bastante de amor, e quero me unir a esse grupo tão sábio.

Se pararmos para pensar, caro leitor, o amor tem se modificado ao longo do tempo. O amor já foi uno, concreto, definido, sagrado. Mas o século mudou, as pessoas se reinventaram, os objetos ganharam status, e com isso veio as variantes do amor, que se multiplicaram. Não considero isso ruim. Acho super válido. Hoje há diversas formas de se vivenciar o amor, de tê-lo em nossa vida. Expandir significados e ultrapassou limites. O amor romântico – você e eu felizes para sempre – anda bem em falta e não é mais o único.

Então você, assim como eu, pode se questionar o que é o amor, afinal? É impossível resumir num só conceito. Amor é maior que definições e expressões vagas. Amor é gratidão por alguém ter nos tornado especial, com um olhar. Amor é a possibilidade de viver uma vida a dois, com suas lutas e glórias. Amor é sentir que sua existência valeu a pena, quando chegar a hora final. Amor é projetar no outro aquilo que nos falta, não para completar, mas para somar e transbordar. Amor é paixão e erotismo. Amor é o gatilho para cometer as loucuras mais insanas que rendem as histórias mais hilárias. Amor é o desejo de construir uma família – ou se estabelecer na solitude. Amor é aquele troço sem razão que bagunça tudo o que toca. Que melhora nossa vida. Que piora nossos dias. Que justifica ser quem somos.

Amor é uma mentira que adoramos contar para os outros e nós mesmos. Amor é o álibi para crimes e casamentos. Amor é a divisão do fardo solitário da existência humana, cada vez mais caótica. Amor é o antídoto contra a solidão ou a fogueira em que queimamos a sociabilidade. Amor é uma invenção dos poetas, músicos e cineastas para vender suas belas palavras. Amor é paz, mas também pode ser a guerra. Amor é a aventura pelas terras longínquas da imaginação. Amor é a busca de um tormento que torne nossa vida mais emocionante – e interessante. Amor é unir os cansaços e descobrir aconchego no lar. Amor é aquela emoção que nos domina, que ansiamos por viver plenamente e que não queremos de jeito nenhum ser libertados.

Amamos pais, irmãos, amigos. Amamos e desamamos com igual facilidade. Amamos objetos, namorados ou namoradas, ídolos e pessoas que admiramos, animais de estimação. Amamos a Deus – ou seja qual o nome você dê a sua entidade superior – acima de tudo pois cremos que ele não nos faltará. E amamos nós mesmos apesar de saber que nem tudo que somos é amável.

Por que eu estou falando tanto do amor? Bem, sei lá, caro leitor. Eu gosto de ler, ouvir músicas, escrever sobre o amor. Posso não ter um relacionamento, mas sei o que é o amor. Eu li um livro, há duas semanas, em que a protagonista queria muito amar, viver uma linda e épica história de amor. Mas ela não podia. Ela era assexuada e arromântica, o que impedia que ela tivesse a chance de sentir a química, a conexão, o algo a mais que sentimos quando encontramos os olhos do nosso alguém. E eu fiquei bem pensativa sobre isso, algo que eu não sabia que existia. Contudo, o ponto interessante é que nossa garota descobriu que apesar de ter que abandonar o ideal romântico de encontrar um parceiro, ter família e morrer juntinhos de velhice, ela poderia vivenciar o amor através da sua relação com os amigos, familiares, carreira, etc. Porque o amor é múltiplo.

Espera-se que eu, como uma garota, almeje um relacionamento a qualquer custo, desesperadamente, a medida que passam os anos – sim, estou cada vez mais perto dos trinta anos. Não ter uma relação amorosa é sinal de fracasso, que há algo de muito errado comigo. Todavia, não acredito nisso. Tudo bem eu ser assim. Eu não ligo se as pessoas acham que eu sou exigente, que ler muito me estragou. Que eu não vou “arranjar” alguém porque tenho opiniões demais. Bem, se é isso, se o meu provável alguém se sentirá intimidado por mim, então não é a pessoa certa para mim. Enquanto eu não me encaixo no ideal romântico, eu levo comigo esse todo amor que já tenho o em mim.

Me desculpe, mas o amor não é uma desculpa esfarrapada. É sincero e gentil. O amor pode brotar de um olhar, um toque, um beijo, um desejo. Amor é o argumento para o qual não há réplica porque ninguém questiona sua integridade. O amor é variável. É bonito por não ter rótulos. Não caber em julgamentos e achismos. Como pode alguém amar uma pessoa hoje e amanhã amar outra, ou amar duas pessoas ao mesmo tempo, ou pessoa do mesmo sexo, ou como pode amar alguém que não te corresponde, ou como pode sentir-se inteiro repartindo-se em dois? Como, diante desse sentimento, pode alguém ter alguma certeza?

O amor paira acima de classificações. É a nossa maior proeza. É a parte mais bonita da vã humanidade.

Eu espero que você tenha ou encontre um amor, caro leitor.

Quem sabe eu também não ache um amor que seja perfeito para mim.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 20/09/2022
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