Crônica de uma terça-feira (menos um dia)

E mais uma terça-feira chegou. Meu Deus, os dias estão passando rápido demais. Sério mesmo! Eu pisquei e era o dia de escrever uma nova crônica. O que é um grande feito eu ter lembrado de escrever hoje. Apesar de não saber bem sobre o que escrever.

Caro leitor, eu não sou a pessoa mais criativa do mundo. E sinceramente, eu estou cansada (de novo!). Mas dessa vez é fisicamente. Eu não estou muito bem, mas essa indisposição vai passar logo.

Aí eu ouvir a música Mad world, de Gary Jules, na versão acústica de Imagine Dragons. Que música sensacional. Toda vez que a ouço, de alguma forma mexe comigo. Pois bem, a pílula de sabedoria dessa vez, caro leitor, é que apesar dos lugares e rostos estarem desgastados, das pessoas andarem em círculos, esse é o mundo louco em que vivemos.

Eu tenho aprendido que não preciso ser forte o tempo todo. Eu passei a semana toda fingindo que era muito forte e foi exaustivo. Mas eu sei que tenho minhas limitações, apesar de precisar vestir uma armadura e ser impenetrável. Contudo, eu sei agora que está tudo bem desmoronar, às vezes. Que um dia ruim não define minha existência, que pode ser incrível.

Algumas vezes eu tenho planos audaciosos, em que almejo um futuro excepcional. Mas, às vezes, tudo o que eu consigo fazer é sobreviver ao dia. E basicamente é o que eu tenho feito e bem mal, diga-se de passagem. Eu tenho visto os dias passando e eu só acompanho. Me sinto à deriva, em muitos momentos. É como se eu não tivesse nesse corpo, sabe? É como se eu enxergasse de fora essa pessoa que parece comigo, fazendo tudo o que tem que fazer durante o dia, mas eu não me reconhecesse ou me conectasse com esse alguém que tem vivido a minha vida. Eu sou uma fraude. Eu deveria ser uma pessoa feliz, realizada, grata, mas tudo o que eu sinto, na maior parte dos dias, é vazio e letargia. Não me orgulho disso, mas é como me sinto.

Não sinta pena de mim, caro leitor. Eu estou bem. São apenas dias e dias. Todo mundo tem isso. Eu ter com alguma frequência, só exige que eu seja mais atenta, só isso. Eu tenho conseguido levantar da cama, me alimentado, ido ao trabalho, feito as atividades, caminhado e dormido. E tudo bem. Mesmo nos meus piores dias, eu tenho sido capaz de me manter viva e respirando. E se você se sente assim, em alguns dias, tudo bem, leitor. A gente vai ficar bem. É menos um dia.

Usando o mar como um bálsamo de sabedoria, que eu amo. O mar tem o poder de me acalmar como poucos têm – inclusive, saudades de me sentar na areia e sentir o vento bagunçando meu cabelo. É na ressaca do mar que mora a possibilidade de ver a sua profundidade e alcançar a calmaria de se sentir vivo. O barulho das ondas faz silêncio numa mente agitada. Nem todos os dias serão vividos com glória. Muitos dias serão passados sozinhos, chorando, com palpitação, aperto no peito e ansiedade tirando a paz. Mas será apenas uma fase. Será como atravessar o mar durante uma tempestade, seguindo a luz do farol, que mostrará o porto seguro para descansar após o turbilhão de emoções.

Acho que o que eu quero dizer, caro leitor, é que essa crônica não será um pedido para sermos fortes. É um lembrete de que podemos e devemos ser frágeis, quebradiços, escorregadios, humanos. De que tudo bem não aguentar sempre, de pedir arrego, de desistir se tornar impossível demais. De que há o dia seguinte para tentar de novo. Um novo dia para reinventar a história, sacudir a poeira, trancar a dor no fundo do peito.

Às vezes, caro leitor, tudo o que você e eu vamos conseguir fazer por nós mesmos será sustentar o nosso corpo cansado. Então me permita dizer que é bonito ver que estamos fazendo isso da melhor forma possível.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 13/09/2022
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