Ruminar sentimentos

- Eu guardo rancores!

- Magoou-me, eu fico com “aquilo na cabeça” e perco o sossego!

- Cuidado com as palavras que me disser, pois eu tenho uma caixinha onde guardo tudo, viu?

Já ouviu frases nestes sentidos?

Pois é...

Aprendi, desde tenra infância, que se guarda dinheiro; e isto quando se tem!

Guardar rancores, mágoas, desentendimentos, tem levado pessoas a um mundinho pouco desconhecido e que vou filosofar com você agora: o perigoso mundo do ruminar!

Ruminar, no seu sentido amplo, é um movimento que o boi, a vaca leiteira e outros mamíferos fazem para passar horas remoendo a mesma comida, sem, contudo, engoli-la.

Ao ruminar sentimentos que têm causado mágoas, dores ou rancores, o ser humano deixa-se levar por um processo que em nada o beneficiará, pois continuará a degustar um amargor demasiado, algo difícil de engolir, intragável, quem sabe!

E, nesta compacta vida, a regra é viver bem, curtir muito, fazer o que gosta, conviver com quem gosta, conversar sobre o quê gosta, estar rodeado de coisas que lhes deem satisfação e prazer, apreciar a beleza e simplicidade do mar, dentre outras coisas que enche os olhos de muitos de nós.

O intuito deste refletir, é simplesmente lhe trazer à memória que você desacelere!

Pegue leve!

Ande mais devagar!

Esqueça picuinhas, coisas miúdas, eventos que viveu ou está vivendo que lhe fazem remoer, pensar o dia todo, imaginar que deveria ter agido assim ou assado, etc

Ruminar, literalmente, ruminar.

Será que algo colher algum aprendizado ao ruminar?

Óbvio que toda forma de viver e toda a experiência desfrutada deve caber no diário da jornada nossa de cada dia.

Todavia, perceba que existem alguns costumes que precisam ser exterminados do nosso comportamento, e, um deles, é o ato, quase que compulsivo, de ruminar.

Rumina-se sobre frases escutadas, palavras malditas ouvidas na infância e que perduram até a fase adulta, rancores de eventos ocorridos há, quem sabe, trinta anos, atitudes e atos incompatíveis à fase vivenciada, ações promovidas em um momento de descontrole de uma pessoa outrora tão amada e cortejada, etc...

Partindo deste pensar, questiono: Vale mesmo a pena ruminar?

Existe algo positivo neste comportamento?

Primeiro, preciso, como ser frágil e altamente curiosa acerca da vida e do comportamento da humanidade, asseverar que já fui muito infeliz ao “curtir um bom ruminar”.

Sim, gastava horas ruminando, quase sempre preparando os arsenais para uma possível revanche, uma vingança, uma palavra a ser colocada em tempo oportuno. Andava com o coração cheio de mágoas e com excessivo desejo de que o ofensor “pagasse” pelo mal que eu ruminava que me causou.

Ocorre que, um dia, finalmente me apercebi que, ao ruminar, ao lembrar diariamente de determinado evento que considerava danoso, aquele algoz conseguia a primazia de “dormir comigo”. Sim, em meus pensamentos, ele era quase que um amante invisível aos olhos do meu amado marido.

Eu dormia com o algoz, acordava com o algoz, tomava café da manhã em péssima companhia, almoçava acompanhada de várias pessoas, mas o algoz sempre junto, isto em pensamentos e contumaz ruminar.

Constatei, a duras penas, e após muito sofrimento desnecessário, que minhas forças estavam sendo minadas e transferidas para quem não deveria deter um mínimo de liderança ou autonomia sobre a minha existência, caramba!

Ah, descobri a fórmula da minha felicidade!

Descobri que não preciso do aval de ninguém para ser quem eu sou!

Descobri que cada ser humano é universal!

Descobri que já cheguei ganhando, e não foi uma briguinha qualquer, mas uma enorme batalha enorme. Era a Fátima tentando se sobressair ante bilhões de espermatozoides, e, com muito esforço e jogo de cintura, venci e aqui estou!

E você acha?

E você acha mesmo que com todos estes atributos, guerras vencidas, pelejas triunfantes, o ser humano, sim; você; assim como eu, deve se deixar abater, ao encarar, sem necessidade, uma enfadonha e insensata ruminação?

Será que vale mesmo a pena um ser humano falho, fraco, cheio de imperfeições e deslizes, deter a ousadia de ocupar todos os seus espaços e sentimentos, todos os dias, vinte e quatro horas?

Ah, tenha a santa paciência, meu caro leitor!

Em síntese:

Ruminar deixa para os bois e vacas. Eles são bons nisto, faz parte da essência e natureza deles.

Pesquisando, descobri que vacas leiteiras deitam-se confortavelmente e ruminam cerca de oito horas por dia, ou seja, 1/3 do dia!

E, sincer

amente, eu aprecio observar os animais ruminando. Reflito e perco-me, viajando em pensamentos... Só desvio os olhos quando alguém me belisca!

Agora, trazer este costume para nós, seres racionais, elevados, cheios de massa cinzenta diferenciada na cuca e uma visão de águia de dar inveja a muita gente, não faz um mínimo de sentido, não acham?

Então, sigam as dicas da Advogada que ama filosofar:

- Nada de ruminar!

- Resolva a parada! Enfrente! Pise leve, mas seja firme!

- Não tenha pressa, mas tenha rumo!

- Despeje o que tem para despejar nos ouvidos de outrem, mas com sensatez, firmeza, educação e moderação!

- Seja senhor ou senhora das suas emoções! Olhe a cadência!

- Não aceite ser esgoto emocional seu e nem de ninguém!

- Na hora da varredura emocional, faça a faxina sem um mínimo de pesar!

- Vigie os seus pensamentos!

- Enxote aves de rapina que podem sobrevoar os seus pensamentos e tentarem pousarem sua mente!

- Ponha grades com cadeados invisíveis e indeléveis à porta da sua mente, mas jamais forneça a senha para ninguém!

- Ao chegar alguma ideia a ser, quem sabe, ruminada, expulse-a com toda a indelicadeza possível e imaginária.

Sim, há momentos de extrema gentileza, mas há momentos, que prevalecerá a exímia autoestima e cuidados próprios, onde uma indelicadeza é a maneira mais eficaz e cai como uma luva.

E quando saber a hora certa de usar uma das duas, Fátima?

Ora, a vida, com os seus altos e baixos, e constantes ensinamentos diários, tem tudo para lhes conduzir ao pódio, contanto que você aprenda a sobreviver de forma segura e firme , pois só assim você sairá dessa, vitorioso e jamais derrotado!

By Fátima Burégio (zero ruminante)