Crônica de uma terça-feira

Caro leitor, sei que a última vez que escrevi foi na terça-feira da semana passada. Eu estava me sentindo pesada e bastante reflexiva. Divaguei um pouco sobre a vida. E confesso que ao ler a crônica dias depois eu gostei do que tinha escrito.

Bem, hoje é mais uma terça-feira e eu estou pesada e reflexiva de novo. Na verdade, mais chateada e decepcionada do que o resto. Tudo isso numa terça-feira. Será uma coincidência que pode vir a ser um padrão? Não sei, mas talvez eu deva pensar em escrever as crônicas de uma terça-feira, que será o meu momento de desabafar. Eu venho precisando disso e, sinceramente, eu sou péssima em falar sobre o que me angustia com os outros. É mais fácil escrever, seja aqui, em forma de crônica, ou no meu diário, que anda um pouco abandonado, porque periodicidade e constância nunca foram o meu ponto forte.

Contudo, chega de enrolar. Eu tenho a leve (imensa!) tendência em divagar, puxar assunto atrás de assunto e perder o foco do que deveria ser o principal.

Enfim, como eu ia dizendo, eu estou exausta e hoje só é terça-feira. Fiz um twitter pela manhã, com o meu dia mal começando, que dizia: “terça-feira com t de tentarei ao máximo. e não prometo nada.” Nem eu acredito que foi tão premonitório. Eu tentei, de verdade, mas não deu. Eu fui nocauteada pela vida, mais uma vez – ela nunca me dá uma trégua.

Eu passei por um momento delicado no trabalho e passei o dia amargando essa injustiça. Na verdade, o que ocorreu hoje foi só o arremate de algo que eu já vinha sentindo há dias, mas achava que estava louca – bem, eu não estou. Nossa, como eu queria conversar com alguém sobre isso, mas quem? Não há ninguém. Eu sinto como se eu tivesse que me colocar em uma caixa de papelão, dentro de um quarto vazio, com luz que vem de uma pequena janela, gritando para as paredes, que abafariam a minha voz.

É nesses momentos em que me vejo tão despreparada para a vida. Eu passei por tantas coisas, já sobrevivi a situações que teriam feito outras pessoas sucumbirem, já envelheci mais do que os meus jovens anos dizem. Eu era uma pessoa forte, que seguia em frente. Mas eu não sei. Eu quebrei e não sei mais me consertar. Eu me sinto perdida para lidar com o que ocorre ou mesmo com a minha impetuosidade em lidar com o óbvio. Eu sei que não sou uma pessoa fácil de lidar, mas os outros também não são. E saber disso não me traz nenhum alívio. Ao contrário, eu me pergunto o quanto devo aguentar para que o outro não seja afetado.

O que os outros precisam saber sobre mim e entender é que há um cansaço crônico em mim, que me faz ficar tão letárgica em viver um dia de cada vez. Eu não consigo mais aguentar qualquer situação de que não goste sem pagar um alto preço no fim do dia. É como se minha energia tivesse sido drenada. Não deveria ser assim. Não deveria ser normal aguentar situações desconfortáveis e se acostumar com isso, como se fosse a vida. Isso não é. Não acredite nisso, caro leitor. Não se acostume com situações, pessoas, lugares que te deixam desconfortáveis ou arredios.

Não espere de mim um grande conselho ou uma sábia citação. Não consigo pensar em nada hoje. Eu apenas quero encontrar o interruptor de luz do quarto vazio em que estou. Mas acho que hoje devo me conformar em acender uma vela e queimar lentamente tudo o que eu ruminei durante o dia. Estou exausta. Só quero um momentinho de paz para amanhã começar mais um dia, mais uma batalha.

Você também acha que está mais cansado ultimamente, caro leitor? Porque eu sinto que estou sim.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 16/08/2022
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