Domingo dos Pais no Jardim do Palácio do Catete

Havia poesia no ar nesse domingo no jardim do Palácio do Catete, um dia ensolarado de inverno sem fazer frio ou calor como se fora encomendado aos deuses. Era Dia dos Pais e se podia ver casais, grupos, gente sozinha como eu e famílias de todas as configurações e procedências: Compostas por pai, mãe e filhos; só pai(s) e filhos ou só mãe(s) e filhos, todas alegres e entretidas com a feira de artesanato cercadas pela natureza exuberante e por gansos bastante agitados devido à presença de tantos visitantes que bem poderiam ofertar-lhes uns quitutes, mas não tiveram muito sucesso no pleito, por isso grasnavam chateados. Faz um bom tempo eu não via tanta gente espalhada pela grama animadamente fazendo piquenique, lendo sob a sombra das árvores na beira do lago ou apenas relaxando e pegando sol, tranquila como uma tela de Renoir ou Manet. A atmosfera de antigamente combina com o local que exibe fontes, portões e estátuas do Século XIX, uma lindeza. E fiquei muito tempo ali, como diria Gilberto Gil, “ob-observando…”.

A vida deveria ser uma coleção todinha feita desses momentos suaves quebrados apenas pelos gritinhos gostosos de um garoto pequeno correndo atrás de um ganso enquanto o pai acompanhava a cena receoso de que o filho caísse no lago atrás do ganso. Ou então quando o vendedor de mate veio anunciar a plenos pulmões que a gente poderia fazer de conta que estava na praia de Ipanema, pois ele veio a caráter em sua roupa laranja que tanto conhecemos nas areias da zona sul. Também havia uma agradável roda de samba acontecendo no jardim tocando sucessos atuais e do passado que não chegou a me perturbar em absoluto. Deitei na relva e fiz fotos das copas das altas palmeiras que pareciam tocar o céu azulíssimo e sem nuvens. Nada era capaz de incomodar, foi tão perfeito que nem formigas havia e vejam que não levei toalha ou pano para me deitar. Um sonho irretocável.

Não entrei no belo museu que já sediou o Governo Federal quando a capital era aqui no Rio de Janeiro, minha onda hoje era permanecer ao ar livre e extrair cada segundo dessa tarde. Não faz muito tempo o museu contava com um cinema alternativo, que não sei se ainda está em atividade. Também já assisti nesse palácio algumas exposições de arte muito interessantes e compareci a lançamentos de livros de amigos (igualmente foram lançadas ali algumas coletâneas poéticas das quais eu mesma participei), pois o espaço é belíssimo e convidativo a qualquer gênero de arte. Mais tarde começaram a chegar grupos enormes (pois havia dois eventos em curso) e o encanto foi-se reduzindo à medida em que os decibéis iam subindo. Adeus, poesia, hora de retornar. Feliz, pronta para uma nova semana de desafios.