Crônica histórica da educação em Miranda

No final de dezembro de 1893, quando iniciava os promissores tempos do regime republicano, uma centena de moradores da vila de Miranda, hoje cidade do Mato Grosso do Sul, participou da festa de encerramento do ano letivo do Curso Primário Christovão Colombo. O retorno a esse evento regional permite visualizar uma cena pontual da história da educação escolar primária, nível esse então restrito quase somente às classes mais abastadas em todo o país.

Naquele tempo, o curso primário correspondia ao nível dos atuais primeiros anos do ensino fundamental, ao final do qual o aluno podia, caso fosse aprovado em exame, ingressar no ensino secundário, ministrado em colégios, liceus ou ginásios. O referido curso primário de Miranda foi uma instituição particular dirigida pelo professor Francisco Augusto Ribeiro, natural do Pará, que se tornou em conhecido protagonista da cultura, da imprensa e da política da referida vila, onde chegou no início de 1888.

A princípio, Francisco Ribeiro foi nomeado professor de uma cadeira de instrução pública para meninos, mas como não conseguia receber, regularmente, o seu honrado salário, que deveria ser pago pelo governo provincial, pediu demissão do cargo público para se dedicar ao magistério particular, ministrando aulas nas casas das mais conhecidas famílias locais. Após casar-se com a filha do comerciante Giasone Rebuá, o culto mestre abriu sua própria escola batizada de “Curso Primário Christovão Colombo”. Em paralelo, também lançou o primeiro jornal local e criou uma biblioteca para minimizar a dificuldade de acesso aos livros escolares e de literatura geral.

O curso primário dirigido pelo professor Francisco Ribeiro foi inaugurado no início do referido ano de 1893, conforme noticiou o jornal corumbaense Echo do Povo, quando havia 28 alunos, meninos e meninas, matriculados numa classe multisseriada. Mas, no transcorrer do ano, houve um aumento considerável do número de matrículas. De cordo com o costume da época, os alunos, ao final do aluno letivo, prestavam exames orais em sessões públicas, perante uma banca examinadora externa, formada por autoridades e cidadãos ilustres da sociedade local. A íntegra da ata de realização desses exames foi publicada no referido jornal, em 21 de janeiro de 1894.

O plano geral de estudos seguido no curso seguia o modelo adotado nas escolas das grandes cidades do país. É o que se pode deduzir da ata de avaliação dos alunos, incluindo as seguintes matérias: caligrafia, ortografia, leitura, gramática, análise sintática da língua portuguesa, aritmética geral, contabilidade, noções cívicas, geografia, história, retórica, doutrina cristã e noções gerais das coisas. Em sintonia com o contexto, a imprensa divulgava também o nome dos alunos considerados mais brilhantes, aqueles que tinham sido aprovados “plenamente” e “com distinção e louvor”.

Naquele momento, estava sendo implantados os primeiros grupos escolares do país, em São Paulo, reunindo as escolas isoladas, num único prédio e separando os alunos em diferentes séries. Foi esse o início da lenta difusão da instrução escolar pública no país. Somente no início dos anos 1910 é que esse novo modelo dos grupos escolares começou a ser implantado no Mato Grosso. Uma década depois, houve uma primeira expansão dos grupos escolares para cidades e vilas do interior do estado.