Nioaque na história da imprensa regional

Após o pioneirismo de Corumbá na história da imprensa do Mato Grosso do Sul, cerca de 80 anos antes da criação do Estado por divisão do antigo Mato Grosso Uno, os moradores da então vila de Nioaque testemunharam o lançamento do jornal A Voz do Sul, cuja primeira edição circulou em 26 de outubro de 1894. Evento esse que foi amplamente noticiado nos principais jornais de Cuiabá, destacando tratar-se de um ousado projeto que pretendia levar a voz dos moradores da região ao centro político do Estado, ainda no calor das revoluções que marcaram a transição do regime monárquico para os primeiros anos da República.

Infelizmente, após pouco mais de dois anos de circulação, o bravo periódico foi empastelado e todo o seu material tipográfico destruído e jogado no rio Nioaque, sem nunca ter sido descoberto o mandante desse atentado. Ao considerar o contexto de criação desse jornal, o seu título revela-se significativo no sentido de expressar sinais remotos da bandeira política divisionista, em favor da criação de uma nova unidade da federação na antiga região sulina mato-grossense.

Sua trajetória ficou na história das primeiras manifestações em defesa da criação de uma nova unidade da jovem federação, na região do Sul do Mato Grosso, lideradas pelo proprietário do jornal, João Ferreira de Mascarenhas, mais conhecido como coronel Jango Mascarenhas. A redação do jornal estava sob a responsabilidade do advogado João Cláudio Gomes da Silva, então vinculado ao diretório municipal de Nioaque do Partido Republicano. Anteriormente, o culto redator havia exercido o magistério como professor de Língua Portuguesa do Liceu Cuiabano, primeiro estabelecimento público de ensino secundário do Mato Grosso. Pedira demissão do cargo para fixar residência em Nioaque, conforme consta no expediente da Diretoria de Instrução Pública do Estado, do mês de agosto de 1894, conforme publicado na imprensa de Cuiabá.

Outro registro sobre o mencionado periódico está na edição de 8 de dezembro de 1895 do jornal cuiabano O Matto Grosso, noticiando a chegada à Cuiabá do coronel Jango Mascarenhas, chefe do Partido Republicano em Nioaque. Nessa mesma fonte consta que o líder político estava acompanhado pelo redator do jornal A Voz do Sul, observando tratar-se do “primeiro órgão da imprensa da região meridional sulina do Mato Grosso”. É conveniente ressaltar que o pioneirismo desse jornal diz respeito à região meridional, parte interiorana da região sulina em relação ao rio Paraguai.

Registro da circulação desse histórico jornal de Nioaque está também obra de Paulo Coelho Machado, publicada em 1988, com dados biográficos de Arlindo de Andrades, primeiro juiz de direito da comarca de Campo Grande. Ao confirmar o pioneirismo do jornal, o referido o autor observa que ele era impresso em uma velha tipografia, adquirida em Cuiabá, pelo coronel Jango Mascarenhas, que resolveu imprimir as primeiras páginas em favor da criação de um novo estado no sul.

A memória coletiva regional preservou a informação de que o autor da destruição teria sido um indivíduo, oriundo de Cuiabá, que, pela sua atitude, recebeu o apelido de Onça Preta. Assim, pelas páginas da imprensa regional, conseguimos recolher traços da longa trajetória de luta e perseverança que levou, há pouco mais de quatro décadas, o nascimento do pujante Mato Grosso do Sul dos nossos dias.