ALÉM DO AMOR

Aconteceu em Piracicaba-SP. Na certeza de que se amam e ficarão sempre unidos, Caio e Leidiane casaram-se duas vezes, no intervalo de dezoito anos. O primeiro casamento foi em junho de 2004, em plena festa junina. O mesmo aconteceu na segunda vez, dia 22 do mês passado. Tanto, que a decoração do ambiente, agora, exibia fotos dos dois, paramentados de noivos caipiras no primeiro casório.

Na época, tinham eles, respectivamente, 10 e 9 anos. Isso mesmo. O casamento era de “mentirinha”, no embalo dos festejos juninos promovidos pelo colégio em que ambos estudavam. Mas Caio já estava “caído” por Leidiane. Tinha uma “quedinha” por ela, sentimento que a timidez impedia de confessar. O casamento, portanto, foi uma oportunidade de ouro para ficar pertinho da amada, mãos dadas, olho no olho, dançando quadrilha.

Mas o tempo passa, o tempo voa, e nem tudo continuou numa boa. Leidiane transferiu-se de colégio e a cortina do tempo acabou separando o caminho dos dois. Até que, em 2021, Caio empregou-se numa imobiliária e observou no quadro de trabalhadores o nome Leidiane. Não teve dificuldade em confirmar a venturosa coincidência. Os dois voltaram a se encontrar, agora no ambiente de trabalho. Trocaram lembranças, coração reaceso. Além das antigas fotos, até um diário da noiva descrevendo aqueles momentos foram retirados da gaveta e embelezaram a decoração do verdadeiro casamento.

Emocionante, não? O amor ficou engavetado por dezoito anos e reapareceu mais forte ainda, agora sob o mesmo teto, a lembrar Mário Quintana: “O amor é quando a gente mora um no outro”.

E se eu já estava impressionado com essa bela história, quase perdi o fôlego quando me deparei com o nome de Duane Mann, um veterano da guerra da Coreia que precisou de 70 anos para reencontrar a sua amada, a japonesa Peggy Yamaguchi. Conheceram-se nos idos de 1950 e seu relacionamento durou 14 meses, quando ele foi dispensado do serviço militar e voltou para seu país, com a promessa de buscá-la logo depois, usando as economias do pai. Mas a mãe sabotou o plano, queimando as cartas de Peggy antes de entregá-las ao filho, dando a entender que a namorada já o havia esquecido.

Mais uma vez o tempo passa, o tempo voa, chega a internet, os meios de comunicação evoluem, rompendo fronteiras e, agora, aos 91 anos, o veterano de guerra finalmente reencontrou seu antigo amor, graças a uma campanha que viralizou no mundo cibernético.

No reencontro, Duane também retirou da carteira, já bastantes desbotadas, as fotos daquela época, mostrando os dois juntinhos, numa postura que já desafiava a esteira dos anos e os horrores da guerra.

Assim, em resumo, os dois casais romperam a impiedosa barreira do tempo, reunindo-se em nome de um amor que Vinicius de Moraes celebrou com muita felicidade nestes versos:

“Que não seja imortal, posto que é chama,

Mas que seja infinito enquanto dure”.

E infinito será, além do amor.

(Crônica classificada em terceiro lugar na 5a. edição do Concurso Literário Beleza e Simplicidade /2023)

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 06/07/2022
Reeditado em 23/07/2023
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