O DILEMA DE MALENA CAP IX

Depois desse inesperado fim, sua tia não quis saber de outro, e continuou sua vida sendo solteira prendada e mais devota ainda do santo de Assis.

Naquela tarde, Malena chegou em sua casa, falou com a sua filha Sibele sobre a viagem que ia fazer, e em seguida ligou para Thompson, seu filho, lhe comunicando que ia ao Ceará. Por lá podia ficar mais de uma semana, tudo ia depender do estado de saúde do seu irmão Armando.

QUARTA FEIRA

E ali estava ela no Galeão, de óculos escuros entrando num avião para um voo direto de três horas. Durante o tempo da viagem é que ia preparar seu espirito para o que desse e viesse. Na escola onde trabalhava conseguira duas semanas de afastamento para tratar de assunto particular, mas podia ficar a terceira, caso precisasse, era só se comunicar com a diretoria e explicar. Havia outras duas professoras de arte que iam substituí-la naquele período. Ela não estava preocupada com isso nem com o seu casal de filhos, ambos já formados trabalhando, a moça com vinte e oito anos morando com ela e o rapaz com trinta morando com o pai. Malena estava separada do chato de galocha do marido há mais de seis anos. O bicho agora é que estava mais cheio de frescura, permanecia fumante e sem modos. Vivia sonhando com jogo e apostas pela internet, na esperança de um dia se tornar milionário, um otário, era o que aquele abestalhado era. E ele mesma ria da sua frase poética rimando milionário com otário. Seus filhos já estavam bem direcionados e antenados com a vida na selva de pedra, iam aprendendo a viver, assim como ela aprendera e ainda estava aprendendo.

Não podia ser modesta, se achava boa mãe, havia ensinado aos seus rebentos a se programarem para o futuro, e eles estavam lhe obedecendo em algumas propostas. Do que ganhavam iam poupando parte do salário para comprarem seus imóveis. A Sibele, sabia fazer os trabalhos de uma casa, desde cuidar das suas roupas ao preparo da comida. O Thompson, também era rapaz independente, morava com o pai, mas as vezes ficava uma semana na casa da namorada, era, no presente os costumes eram outros, tanto para moças quanto rapazes...

Malena com os seus sessenta anos, exercia suas atividades, era professora de arte, tinha seus amigos, seus planos musicais e agora mais do que nunca, acreditava que no país podia se operar alguma mudança e desenvolvimento da educação. Dona que era de um vasto material para peças de teatro e músicas compostas, quem sabe alguma coisa sua pudesse vir a ser lançada por algum produtor empresário e estourar. Tudo podia acontecer, ou será que sempre ia piorar cada vez mais, como diziam os humoristas negros? Aquilo era piada, embora houvesse a pobreza cultural e a massificação. Sabia de tudo isso e muito mais, contudo sinceramente ainda não se desiludira e por isso esperava e via que o seu lugar era ali no Rio. Da mesma forma acreditava que o Ceará, a sua terra de origem seria o último lugar do mundo onde poderia viver, pois de lá já viera há mais de quarenta anos e as lembranças do seu tempo de infância e adolescência não eram nada boas.

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 30/05/2022
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