VIVER PELADO JÁ FOI PERFEITO E "MUITO BOM", MAS…

Toda conquista e toda catástrofe deixa LEGADOS, uns ruins, outros bons, mas todos inevitáveis.

Claudio Chaves

kafecomleit@hotmail.com

JÁ abordei esse tema aqui na Crônica Dominical. Por isso esforçar-me-ei para ser breve.

É QUE, a essas alturas - como já passou o carnaval [ou a data dele] e o ano finalmente começou, em todo o Brasil, o ano letivo também começa, e com ele os intermináveis - e muitos infrutíferos - debates sobre o uso-não-uso da máscara de proteção contra o coronavírus.

EMBORA respeitando os posicionamentos, inclusive alguns aflitivos, dos que, por um específico ou diversos motivos, não vêem a hora de se livrar desse "indesejado e incômodo acessório", o objetivo do meu retorno ao tema é para lembrar que não chega a ser um delírio nem de todo uma ideia estapafúrdia cogitar a possibilidade de que esse acessório passe a fazer parte definitivamente, senão agora, em breve - já que os cientistas dizem que a próxima pandemia é questão de pouco tempo - de nossa vestimenta diária.

E PARA os que acham essa possibilidade um sacrifício demasiado ou um "luxo" desnecessário porque "antes não tinha nada disso e a gente vivia bem", ressalto que sim, de fato, já vivemos (nossa espécie) sem anestesia, sem antibiótico, sem creme dental, sem desodorante de axila, sem absorvente de calcinha, sem sabonete, sem fogão a gás, sem geladeira, sem panela de pressão, sem máquina de costura, sem livros, sem celular, sem porta com detector de metal em bancos, sem código de barras, sem dinheiro de nenhuma espécie, sem vacina, sem energia elétrica, sem lâmpada…

ALIÁS, ao que consta, quer no Gênesis quer no Origens das Espécies, até sem roupas nós já vivemos. E por mais que andar vestido nos lembre, segundo os criacionistas, nossa maior mancada enquanto espécie desde que o mundo é mundo, ninguém no chamado "mundo civilizado" quer abrir mão dessa "desconfortável lembrança", mesmo que andar peladões nos lembrasse, de repente, de quando tudo era "muito bom".

A REVOLUÇÃO Industrial trouxe males dos quais a humanidade jamais se livrará (doenças e acidentes consequentes do trabalho, conflitos entre trabalhadores e patrões, degradação ambiental…), mas também trouxe benefícios (aumento exponencial na produção de alimentos, rapidez nos transportes, telecomunicações…) sem os quais a vida em nossos dias seria inimaginável.

A DINAMITE é uma invenção que até hoje é utilizada como arma de guerra e até por assaltantes de bancos; nem por isso deixa de ser de grande relevância, por exemplo, nas grandes obras de engenharia civil, como abertura de canais fluviais, desobstrução de estradas, demolições de edifícios e tantas outras.

DUAS grandes guerras mundiais causaram horrores que dispensam qualquer comentário. No entanto, os esforços durante os terríveis conflitos resultaram em avanços científicos e diplomáticos que beneficiarão a humanidade até o fim [se um dia chegar] de sua existência.

A AIDS, por exemplo, nos ensinou a usar os preservativos - que além do vírus próprio, ajuda a prevenir muitas outras moléstias graves.

E ASSIM, toda conquista e toda catástrofe deixa LEGADOS, uns ruins, outros bons, mas todos inevitáveis.

SE A ADIÇÃO da máscara ao vestuário diário for um desses deixados pela covid-19, que mal fará, especialmente no País no qual na manifestação mais popular (o carnaval) máscara é um dos principais adereços, e onde este utensílio é um dos preferidos por inúmeras autoridades em todos os escalões da governança pública?