O DILEMA DE MALENA CAP VII

O caso tinha se dado no Córrego dos Rodrigues, numa bodega perto da curva de onde se avistava o que fora a salina desativada do seu pai. No ambiente rústico de beira de estrada onde ele estava com um amigo bebendo cachaça e tirando o gosto com caranguejo ao pé do balcão, foi que começou a discussão com dois estranhos que estavam jogando sinuca. Bebida, jogo apostado e ideias divergentes, aquilo era pior do que o triangulo do fogo, pensava Malena. A bebida esquentava os ânimos, o perdedor no jogo geralmente se zangava e engrossava, a discussão contrária às suas ideias era simplesmente a fagulha que acendia o ato de barbaridade. Sem que ninguém esperasse, o amigo de Sansão por estar de costas para os jogadores foi esfaqueado à traição e não escapou. Se não fosse o bodegueiro que conseguiu acertar com um taco de sinuca o outro que estava também armado de faca, Sansão que foi furado nas costas, teria sofrido grande dano ou quem sabe até morrido também. O assassino João Canhoto do Córrego, foi tratado na Santa Casa, ficou deficiente e cumpriu pena depois. Era sujeito arruaceiro e perigoso, na hora da raiva pegava tudo que tivesse à mão, tamborete, pau de cerca, garrafa, mas se deu mal porque Sansão era do mesmo jeito dele e o traiçoeiro teve algumas costelas quebradas. Ao Canhoto também foi outorgada surdez perpétua por uma tamboretada que Sansão lhe aplicou na lateral da cabeça.

Devido a esse episódio, o cabeludo esteve preso alguns dias também. Segundo seu pai soube e lhe falou, a discussão girava em torno da guerra das Malvinas e da copa do mundo, onde os dois sinuqueiros torciam pela Argentina e Sansão defendia os ingleses devido à grande empatia que tinha pela memória do seu avô Raniere Vat.

Malena gostava de ouvir as falas do seu irmão cabeludo e não estranhava suas opiniões sobre família. Suas ideias eram de que cada um dos seus filhos devia procurar se manter, pois “quem quer trabalha consegue o que comer. ” E acrescentava que não era com herança que filho seu devia contar, a herança que ele recebera foi a genética de sua mãe e de seu pai. Mas Malena e todo mundo sabiam que Sansão além da genética familiar recebera de herança aquele sítio velho do seu pai, que tinha sido do seu avô. Fôra a parte que lhe coubera por escolha e acordo entre os irmãos. À finada Julia, a ela e ao Armando coube a parte em dinheiro da venda da casa de Aracati, do apartamento da capital e parte do armazém, dividida em três partes iguais.

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