CONVIVENDO COMIGO E COM O TEMPO

Quando fiz sessenta anos, comecei a me perguntar se era eu ou o tempo que tinha pressa; passei a não olhar com tanta frequência os ponteiros do relógio, mas sabia que eles continuavam no mesmo ritmo.

Enquanto eu sigo mais lento, percebo que o tempo não tem pressa; quando eu andava correndo e querendo diminuir o seu tic-tac que temos como referência de quando começa e termina.

Agora preencho meu tempo de acordo com as minhas vontades, sem hora de sair ou para chegar. Se me visto para sair ou para dançar, me sinto sempre na moda. Hoje tudo em meu corpo tem um bom caimento, as camisas não necessitam daquele detalhe de desenhar e definir os meus músculos, que agora não passam de uma massa de um ganho de gordura.

No meu entendimento, compreendo que tenho que ir me acostumando com esses novos costumes de passar dias dormindo até um pouco mais e, quando acordar, achar que ainda tenho sono de uma noite bem dormida e sem pressa ficar olhando para o teto perguntando o que tenho hoje para fazer.

Agora de segunda a sexta, até o final de semana (sábado e domingo), fico sem violar as regras do tempo, mas acho tudo oportuno quanto a minha vontade de não fazer nada. Não fico arrumando tempo para que mais depressa o tempo passe, melhor mesmo é sentar na sombra de uma árvore e conversar com a natureza.

Eu me imagino em um novo episódio, onde vou ser sempre o galã contracenado com uma bela atriz, cenas de puro amor, com beijos ardentes, deixando com água na boca o espectador.

Já não olho com tanta frequência aquela minha pessoa que procurava no espelho por Narciso. As descobertas de ontem vou assimilando e somando à sabedoria de que fui sempre um aprendiz do conhecimento.

Agora deixei de competir com o tempo, já não procuro atalho para achar que não vai dar tempo. Enfim, fizemos a paz. Hoje estou sempre convidando ele para que fique mais um pouco, para onde ele vai, não importa.