O DILEMA DE MALENA CAP V

Matilde, a mulher do cabeludo, já estava acostumada com o jeito do marido. Cristã ao seu modo, era crente e se baseava nas quimeras dos escritos antigos da Bíblia onde a mulher ainda ia com um cântaro buscar água em uma fonte; onde ainda amassava o trigo para se comer o pão. Para a doce e resignada Matilde todos aqueles trabalhos manuais de cozer, fritar, pilar, peneirar, assar castanha, fazer tapioca, preparar cajuína, cuscuz, pirão e mingau, era algo que lhe dava prazer fazer. Em pleno século XXI, lavava as roupas num tanque, criava galinhas, e aceitara viver rusticamente com aquele homem amalucado e cabeludo. Sansão era exagerado em suas ações, mas era alguém de boa índole, depois dos quarenta já se curara em parte das loucuras e do excesso de álcool. Quando era mais novo houve vezes em que quase morre por ter se metido em brigas e discussões durante as bebedeiras.

Malena era consciente e reflexiva, sabia da herança genética de que se compunha a sua família, principalmente o lado agressivo e intrépido do seu pai. Mas, além disso ela atribuía ao mau uso da cachaça a reponsabilidade maior por tudo de desconcertante que acontecera no seu lar e naquele meio. A bebida destilada da cana parecia algo diabólica e fazia criar uma atmosfera de violência, de disparates familiares e uma marginalidade em geral.

Era, ela se lembrava bem de 1982, quando estava com seus vinte e três anos e estourou a Guerra das Malvinas. Não esquecia disso porque tinha sido no mês de agosto daquele ano que ela tinha concluído o curso de pianista pelo conservatório Jardim Guanabara. Já havia concluído a Licenciatura em Música e estava lecionando no colégio desde 1980, quando chegara ali na Ilha para morar. A responsável por sua mudança do Ceará para terras cariocas, tinha sido sua mãe, por ter amizade com pessoas bem-sucedidas que largaram a província, como ela chamava o Ceará, e vieram morar e trabalhar na capital cultural do país.

Regina, sua mãe, viera para sua formatura no Rio e Malena com seus vinte e poucos anos via no rosto sofrido de sua genitora uma réstia de satisfação e orgulho por ela. Sua mãe lhe queria muito bem, e a jovem sabia também que era muito querida por seu pai, mas o que fazer, aqueles dois tinham vivido vertiginosas crises e sobrevivido a violentas intempéries causadas por eles mesmos em seus duros tempos. Se bem que seu pai Rodolfo Vat, fosse aquele que tanto matava como curava. Infelizmente, ele não pudera vir para sua formatura, devido ao problema com Sansão que estava hospitalizado por ter se envolvido numa briga durante uma bebedeira.

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 04/02/2022
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