Dia da Saudade

"Saudade mata é verdade

Mas dessa morte me esquivo

Como morrer de saudade

Se de saudade é que vivo?"

(Anônimo)

Duvi-de-o-do que alguém não tenha saudade da infância. Nascido às margens do São Francisco, a pouco menos de 200 metros do rio, foi ali que aprendi a nadar sem que ninguém tivesse me ensinado. Foi tudo espontaneamente. Maiorzinho, nadava na correnteza, dando sustos à minha avó, que gritava aflita: "nunca mais vou tomar de conta desse menino. A mãe que cuide dele. Ele me mata do coração!"

Hoje, lhe ergueria um troféu pela preocupação que tinha conosco, todos atrevidos em relação ao rio, nadando em águas correntes.

Voltaríamos àquele lugar para nadar no mesmo rio. Mas, infelizmente, o lugar está submerso pelo Lago de Itaparica, que inundou três cidades.

A engenharia afirma que aquele lugar, aquele rio, estão a 70 metros abaixo da superfície do lago. Precisaria ser um escafandrista para ali chegar, mas não encontraria nem a casa onde nasci, nem o rio onde nadei.

Agora, só saudade, muita saudade. De barco, já naveguei sobre suas imediações e, apontando para baixo, dizia: "era ali."

Hoje, Dia da Saudade, dizer que não sinto saudade do passado, seria negar o "sentimento nativista."

Foi ali onde tudo começou. Se hoje estou pertinho do mar, foi pertinho do rio que eu nasci.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 30/01/2022
Reeditado em 30/01/2022
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