Roguemos ao tempo

Como é bom erguer as pálpebras e perceber que permanecemos atuando no mesmo enredo, no mesmo tablado.

Hoje estou melhor adaptado! O estreante inseguro de outrora deu lugar ao veterano experiente. Sei como proceder ante: as circunstâncias, as pessoas, os dissabores... E caso me sinta inadequado ante essas questões, sei que também aprenderei a lidar com elas.

Outro palco, nova realidade, diferente enredo. Não! Eles não me desagradam! Ocorre que é preciso paciência e boa vontade. Leva-se tempo para compreender leis e regras que norteiam outros espetáculos.

Mas em algum momento o show tem de acabar, não há como protelar eternamente a despedida de algo, por mais apaixonante que esse algo seja.

A ciência estendeu a vida, a tecnologia proporcionou às indústrias cinematográficas esticaram os filmes em superproduções de longas metragens, atualmente são as apaixonantes séries que nos fazem varar noite adentro.

Mas em algum momento o roteiro se esvai, os episódios findam, as temporadas perdem força e o derradeiro epílogo se faz necessário.

É nesse momento que as cortinas se fecham e somos conduzidos ao outro palco, para nova apresentação, personagem inédito, enredo oposto, script diferente...

Quero aproveitar ao máximo essa atuação. Tenho tudo decorado! Aprendi a improvisar, estou mais sagaz, sinto-me cada dia mais atento e capacitado para colher trigo em campos infestados de joios.

É isso! Terra arada, sementes lançadas... Mesmo que a safra não seja boa, roguemos ao tempo que nos dê a honra e o privilégio da colheita.