Minha Gafe no Governo Militar

Já no governo do General João Batista Figueiredo, o quinto e último Presidente do Regime Militar, na minha condição de Radiotelegrafista, recebia mensagens entre SNI e ASI, esta da empresa governamental em que já trabalhava há 18 anos.

Na última cidade em que atuei naquela profissão, representantes de algumas entidades estavam discordando publicamente, através de jornais, de algumas medidas da empresa, que caracterizavam discordância com o governo federal.

Em missão secreta, ali chegou um enviado de Brasília, para algumas investigações.

Pelas mensagens recebidas, sabia que meu superior hierárquico foi buscá-lo no aeroporto. Logo, ao chegar à empresa, só podia deduzir: "é ele."

Casualmente, ao cruzar com ele, no corredor, entre a minha sala e a do chefe, involuntariamente, o cumprimentei e o chamei pelo nome. Ele, de imediato, foi me dedurar ao chefe: "como é que eu estou aqui em missão secreta e um rapazinho ali me cumprimenta e me chama pelo nome?"

Poderia eu ser repreendido ou sofrer uma sanção administrativa. Mas o chefe me limpou a barra: "não se preocupe, o rapazinho é o nosso radiotelegrafista, ele sabe tudo antes de nós."

Mas, por conta de sua função, seu lema é "ver, ouvir e calar."

Ora, no meu certificado de Radiotelegrafista, consta lá: "o Governo Federal impõe ao seu portador a obrigação de guardar o sigilo das comunicações, sob pena de sanções ou cassação do presente documento."

A gafe foi só pelo cumprimento, não houve troca de informações. Escapei.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 11/01/2022
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