O DILEMA DE MALENA CAPITULO 3

Uma pessoa madura e vivida devia estar preparada para o que desse e viesse, era o que era. A sua vinda para ali tinha se dado graças aos conselhos e esforços da sua mãe, mas era certo que ela mesma era a responsável pela condução do barco. Agora já estava amalgamada naquele mundo, se acostumara às instabilidades do tempo, era fascinada pela beleza geográfica e arquitetônica do lugar, além de conhecer bem o jeitão engraçado e sutil dos cariocas.

Ali pelo Rio, ela devido ao seu trabalho de educadora conhecia muitas pessoas sem frescura, gente desenrolada e independente. Também conhecia alguns tipos estranhos, cheios de melindres e orgulhos. Descobrira em algumas conversas, que boa parte dessas pessoas não gostavam de saber que outras sentiam pena delas. Ela, era uma cearense nata, com a formação cristã que recebera em sua casa pela sua mãe, não pensava assim. Se apiedava dos outros, era compassiva sim para com os seus irmãos. Depois da morte da Julia, sua mana mais velha, era ela a professora Malena o esteio e a responsável pelos seus dois manos.

Tinha que continuar ajudando-os, não podia ser indiferente e agora urgia ir visitá-los. Ainda bem que pelo menos estava em condições de viajar mais uma vez. Era, o momento era mais uma vez de tristeza, quase que como das últimas duas vezes que fora a sua Aracati. Em 2009 lhe morrera a mãe, por um AVC fatal; em 2013 perdera o pai, cirrose hepática. Agora, lá ia ela encontrar um caso de internação. Tratava-se do Armando, seu mano caçula que estava na UTI. Armandinho era alcoólatra como fora seu pai, infelizmente era o mais frágil de sua casa. Não possuía a robustez física que herdara o seu outro irmão Ronaldo Sansão, o penúltimo. Este abusava de ter saúde e vivia oscilando entre o vício e a vida rústica, as caçadas, as pescarias seguidas de um período de sobriedade para depois entrar outra vez na ciranda dos exageros etílicos. Sansão era o matutão da família, um homem grande e cabeludo, oposto ao Armandinho que era fino, refletido, educado, homem de leituras e músico sensível. Era, a natureza fazia das suas distribuindo entre seus filhos diferentes dons e aptidões. Armandinho puxara mais o lado materno, era virtuose no violão como sua mãe o fora no piano erudito. Seu irmão caçula tivera mulheres, mas estas não lhe deram filhos. Dedicara-se ao violão clássico, mas aquilo não o levou muito longe, logo não quis saber de outra atividade e naquela que escolheu não conseguiu brilhar nem no Sudeste e muito menos em sua província, por isso se acomodou em Aracati, se entregando ao desânimo e ao vício, e agora estava internado, que pena!

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 10/01/2022
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