2021 – Que ano! 2022 – Que ano?

Aos que me leem, especialmente eu, (leio-me algumas vezes em cada texto), muito obrigado por já estar aqui.

Tenho dedicado algum tempo à escrita, produções digamos ou melhor nominadas, academicamente, de produções, uma vez que são ideias, pensamentos e argumentações pessoais traduzidas em textos que tem características especiais, pessoais, embora se confundam com outros textos e, por vezes, com as ideias de outras pessoas. Escrever é assim mesmo. Os textos todos se parecem, nas ideias e nas formas como se desenvolvem. Nada de novo, mas tudo muda, como diria António Nóvoa.

Último dia do ano de 2021 (que ano!) quero escrever sobre o que significou esse período de 365 dias. Em relação a outros períodos, claro, sempre há elementos novos. Entretanto, este período agregou sentidos e significados nunca antes vistos ou percebidos na minha vida. Algo me perturba. Talvez eu saiba bem o que seja.

Em forma de tópicos tentarei monologar sobre situações e eventos que me fizeram chegar até aqui. Até onde irão me levar?, não sei, e pior, não posso saber. Sei, que preciso me mexer se ainda quero ter algo prospectivo. E mesmo otimizando todo engajamento possível e mobilizando todas as forças inerentes, isso não é garantia de nada promissor. No mundo em que vivemos vencem muitos, outros ‘muitos’ alcançam até mais do que desejam, entretanto, outros tantos (e são muitos tantos) apesar de todo esforço empreendido, não vencem, não alcançam a sombra o mesmo o sol. Muitos dirão: meritocracia, privilégio, esforço, merecimento pessoal... eu digo: desigualdade e injustiça social produzida, reproduzida e legitimada por quem se diz do bem e humano. Portanto, meu olhar para o que passou com perspectivas para o que ainda está por vir, é de rebeldia. Um tanto pessoal e outro tanto em relação ao sistema de coisas que nos afetam, como humanos.

Uma retrospectiva, para ser tradicional.

_____________________________

IDADE.

O segundo mês de cada ano agracia-me com a natividade. Esse ano alcancei sessenta anos. De um lado senti-me bem ao refletir sobre o evento porque desde o falecimento de meu pai, introjetei uma ideia de que eu morreria antes dos 50 anos. Algo meio ‘louco’, sei, mas este pensamento acompanhou-me e me fez viver muitas situações com foco nesta subjetividade.

Eis um dos motivos por que nunca me apeguei muito, nem a pessoas, inclusive família, e nem a realidades materiais, preferi viver solto pelo mundo. Com isso conheci uma mínima parte de um enorme e complexo mundo que não se conhece na escola e nem ‘amarrado’ a um pequeno espaço e contexto tentando juntar bens para as traças depois roerem. Claro, como tudo na vida, isso teve seu preço. E pior, a conta está chegando aos poucos e querendo cobrar caro. Se vou pagar?, não sei.

A melhor idade (como dizem muitos – não sabem de nada!) fez-me ver o lado sombrio desta que, sim, deveria ser a melhor fase de uma pessoa humana. Não a completei nem um ano e já percebi indiferença, preconceitos, desconsideração em vários espaços sociais, pretensa caridade, consideração de um mal necessário e, (ainda a ver), desvalorização e preterimento no mundo do trabalho.

Não me considero produto sobremaneira da idade, mas resultado do que as diferentes experiências me proporcionaram. Amadureci em muitos aspectos. Em alguns, reconheço, não evolui o suficiente; em outros sofri consequências que me afetaram e interferiram em minhas possibilidades em uma sociedade perversa e contraditória quando analisada em relação aos critérios humanos e humanizadores que tanto se prega em todos os cantos. Somos muito humanos no discurso e pouco humanos nas ações, de fato.

Enfim, sou uma síntese de tudo que vivi e como vivi. Mas, além desta afirmação sou o que eu fiz a partir das oportunidades a que tive acesso. E esta é a questão central: uma pessoa, qualquer que seja, ao analisar ou ser analisada em sua trajetória, devem e precisam ser considerados as oportunidades às quais ela teve acesso. Só depois dessa percepção pode-se inferir de como a pessoa aproveitou estas oportunidades para se tornar o que ela é – em qualquer momento da vida.

Então... chegar aos 60 anos é um privilégio, sim. Especialmente quando lembro de muitos conhecidos, colegas e parceiros que não chegaram até este momento. Ao longo dos últimos anos perdi colegas por quem eu daria a vida, de tanto significado que me inspiravam. Muitos conhecidos, gente boa demais, se foram. Isso me fez e me faz refletir que o momento que vivo é um limite. Cada dia, ao ser um dia a mais, também é um dia a menos. Viver, nessa realidade conscientemente perigosa, é um desafio e tanto.

_____________________________

TRABALHO...

A pandemia foi, é e continuará sendo um evento (da natureza, provocado pelos humanos em seus efeitos) que fará lembrar, a quem ousar refletir, que estamos na direção errada se queremos um futuro mais harmonioso e mais humano para a humanidade.

A pandemia foi o principal motivo que retirou a fonte de renda de milhões de pessoas pelo mundo afora. Comigo não foi diferente.

Desde 2008, ano em que me formei na URCA, nunca fiquei sem trabalho. Pelo contrário, recusei muitas oportunidades por não poder assumir responsavelmente. Fiquei todo este tempo ligado, direta e indiretamente a URCA, ora como professor substituto, ora como bolsista do Parfor. Trabalhei em praticamente todas as turmas do Parfor desde que o programa existe. Mesmo no período que morei em Fortaleza para fazer Mestrado, continuei trabalhando como bolsista do programa. Hoje (31/12/2021) encerrou-se a última bolsa do programa. Literalmente, a partir de hoje, estou desempregado e sem renda. O futuro?, a ver...

A pandemia ‘revolucionou’ os trabalhos e oportunidades a que eu sempre acessei e tive um certo livre trânsito, seja por meio de concurso ou convites, no caso de instituições particulares. Ministrei aulas e orientações em muitas Pós-graduações em faculdades e instituições particulares de Ensino Superior.

Um dos fatos que a pandemia promoveu foi a expulsão (demissão) de muitos bons profissionais das instituições particulares de todos os lugares. Todos eles tornaram-se concorrentes, transformando os concursos em verdadeiras arenas de competição desumana e, muitas vezes, sem ética. Mudaram as concorrências, mas também mudaram as formas de como o sistema organiza as oportunidades, promovendo filtros que cada vez mais precisam eliminar mais pessoas no primeiro momento do evento.

Esta realidade afetou-me sobremaneira, pois com mais concorrência (e concorrência melhor ‘formalizada’, a qualificação não se mede em um concurso, mas o sistema ‘acha’ que sim) as minhas chances – e de muitas colegas – foram reduzidas ou compartilhadas. Resultado: em todos os concursos que fiz (a exceção de um) durante a pandemia, fui aprovado, em muitos classificado, obtendo aprovação em segundo e terceiro lugares, mas a chance e vaga eram para, apenas e somente, o primeiro colocado. Isso me deixou e está me deixando à margem do mundo do trabalho. Ah, uma consideração (rebelde): não há FALTA DE TRABALHO, o que há é falta de gestão do trabalho para que todos os humanos – que querem trabalhar – tenham acesso ao mesmo, dentro de perspectivas de uma sociedade humana e... humanizadora. Sobre a exceção, escreverei mais adiante.

Expectativas quanto ao trabalho em 2022? Sombrias.

_____________________________

ESTUDOS E LEITURAS

A pandemia, a partir de março de 2020, proporcionou-me um tempo que com as atividades presenciais nunca tive. O tempo permitiu praticar a leitura e estudos leves, longe da relação com conteúdo a ministrar em aulas.

Esta experiência promoveu o contato com releituras de autores que já li no passado. Novos olhares, conhecimentos e referenciais foram se formando na minha bagagem. Estas experiências serviram de desconstrução de conceitos e de construção e reconstrução de outros.

Mas o que me encantava, logo de início, foi a perspectiva de mudança que a maioria dos usuários de redes sociais, de opinião e de escritos mais referenciados defendia. Em todos as redes disponíveis o ‘slogan’ mais enunciado foi a necessidade de se constituir um ‘novo normal’. Em praticamente todos os textos publicados em revistas e periódicos, este era tema obrigatório.

No início do distanciamento social, junto com colegas, criamos um evento ‘online’ em que discutíamos temáticas emergentes dos novos tempos, ou velhos tempos travestidos de preocupações outras. Já dizia eu, que não acreditava nesta perspectiva, pois, de modo geral, as pessoas fazem muita confusão sobre o conceito de normal. Dizia eu que, do meu ponto de vista do desenvolvimento humano, a sociedade seria ainda pior depois da pandemia. Hoje, neste momento, não tenho apenas certeza disso, digo mais: a humanidade, em relação aos critérios de ser humano, será muito pior, (mas muito mesmo) depois da pandemia. Teremos mais egoísmo, individualismo e competição desumana e desigual em todos os eventos sociais. E quem, em tese, tem poderes para alterar situações, promove, produz, reproduz e legitima a desigualdade social, direcionando processos que favorecem ainda mais quem já tem privilégios. O futuro?, ainda mais desumano... promovido por quem se diz ‘muito’ humano.

_____________________________

TOMBO HUMANO

Como dizia antes, participei de muitos concursos. Muitos, pelo que antes da pandemia considerava-se uma média. Alguns, foram totalmente virtuais, o que promoveu uma experiência que considerei muito significativa. Também trabalhei várias turmas ministrando aulas totalmente remotas.

Como já destacado, em todos os concursos tive aprovação, em alguns classificação (por vírgulas de diferença) para chegar a primeira posição. Mas...

No último que fiz, na URCA, para o qual me preparei durante 40 dias de uma forma ‘extrema’, pois queria a todo custo alcançar o primeiro lugar, levei um ‘tombo-acadêmico’ que me fez refletir ainda mais sobre a desumana insanidade e perversidade sistêmica do ser humano e dos eventos do sistema educativo como promotores, produtores, reprodutores e legitimadores das desigualdades e injustiças sociais em relação às oportunidades de trabalho.

O que interpreto pode estar equivocado, e ciente estou que posso ser prejudicado em futuros eventos, o que apenas justificaria ainda mais o que insinuo, opino E (maiúsculo mesmo) argumento.

Na concorrência duas mulheres e dois homens. Na banca três mulheres. Tema sorteado. Nem uma das três ‘membras’ da banca com formação próxima da área do ponto sorteado. Mas isso não deveria ser importante. Parece que foi. Para minha lógica e racionalidade, em um evento com APENAS quatro participantes, todos e todas bons profissionais, eu entenderia, como banca, classificaria os quatro, pois a prova didática seria mais uma oportunidade de analisar a qualidade dos envolvidos. Escolher quem ficaria em primeiro lugar, nesse momento, é, sim, um desafio, mas também competência da banca. Mas o inusitado ocorreu.

A banca – que supostamente tem função de analisar às cegas os textos, o que é uma mentira grotesca – foi capaz de atribuir seis (6) notas 4.0 aos textos dos homens. (Ah!, não consigo pensar que a coordenadora da banca não olhou quem era(m) a concorrência e assim já saber, pela forma da escrita, quem era quem nos textos. Claro, isso é apenas detalhe).

Reconheço que três revisoras, mesmo às cegas, isto é não tendo conhecimento do autor do texto, mas TAMBÉM, não NEGOCIANDO as notas, na mesa de revisões, podem, sim, ser capazes de atribuir notas iguais a dois textos de dois sujeitos diferentes, de formações diferentes. Mas o que me incomoda foi a forma como isso ocorreu em textos sobre uma temática onde todos os envolvidos tem base para elaborar um texto que mereça nota para ser apreciado melhor na próxima etapa de um certame.

Depois, o que intrigou nesta façanha, foi o contato com os resultados do colega e perceber que ele atendeu a todos os requisitos sugeridos pelo tal do espelho, que a URCA inventou nos últimos concursos com um detalhe: publicação posterior a prova e servir de parâmetro exclusivo em algumas bancas.

Já fui membro de banca, da URCA, e, também, elaborava-se o tal do espelho. MAS, do concurso que participei, o espelho da prova era elaborado depois da correção das provas e indicava quais elementos foram considerados presentes em todos os textos aprovados.

O que eu queria mesmo confrontar eram os quatro textos e mais: permitir que a revisão fosse feita por três revisores da área da temática. Ademais, queria que alguém me explicasse quais formas de refletir (escrever) sobre um tema qualquer, NÃO podem servir para avaliar uma interpretação sobre um tema.

Enfim, em já ter participado de banca e de ter ‘ouvido’ ‘barbaridades’ já ocorridas nestes concursos (inclusive brigas) para aprovar determinados candidatos, não me surpreende nada mais. Porém, foi a primeira vez que me senti totalmente injustiçado, assim como também meu colega, mediante os eventos sequenciais que são o conjunto para se apreciar a qualidade de um candidato para qualificar a formação docente. Mas... conhecendo-se alguns elementos formativos de quem assim procede, nada pode se esperar, além de... tudo.

São os humanos que se dizem muito humanos, mas em suas ações se contradizem eficientemente.

_____________________________

ESPERANÇAS...?

Bem, falar de esperança quando nos começa faltar o chão não é tarefa simples.

Não entro feliz em 2022. Nem satisfeito. A partir de hoje preciso de ajuda até para me alimentar.

Pesam-me possibilidades que ainda podem ocorrer, para piorar a situação. A ver...

Enquanto sobrevivo, espero encontrar o respaldo de pessoas que possam me indicar trabalho para sobreviver e tentar me estabelecer com alguma segurança. Quero isso não apenas para mim. Sei de colegas que estão na mesma situação. Queria isso para todas as pessoas. Mas...

Quanto a 2022, vou apostar por 365 dias em estudo e conhecimento e me efetivar ou obter aprovação em algum evento laboral. Para tanto, investirei em qualquer oportunidade que aparecer, pois a experiência nestes dois anos de pandemia, mostrou-me que a concorrência nos eventos competitivos é pior que uma guerra. Não existe mais lugar desejado ou ideal. Necessário se faz aceitar qualquer situação entre as demandas oferecidas. Precisamos derrubar, vencer e eliminar do jogo quem apreciamos e consideramos. Não existem humanos no jogo, são todos ‘animais’ tentando puxar o coxo para seu lado. Depois... bem depois, que o concorrente ‘se lasque’.

Sobreviverei nestes dias, com a ajuda de pessoas estranhas ao meu meio (interessante isso). Se depois de 2022, a situação persistir, pensarei... pensarei... e agirei.

Ademais, vou dar tudo de mim, esforçar-me mais. Pode ser que tudo que tenho feito nos últimos 11 anos como professor, orientador e colaborador do conhecimento não foi o suficiente para ‘merecer’ um lugar ao sol. Como gosto de dizer: sou um guri novo, ainda tenho como aprender...

Boas festas para todos, amigos, inimigos, bancas e etcétera...