Crônica histórica de Aquidauana

Um dos mais antigos textos históricos de Aquidauana, que hoje está entre os dez municípios mais populosos do Mato Grosso do Sul, foi escrito pelo coronel João de Almeida Castro, publicado no Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso, em 1914. O autor descreve um amplo cenário dos aspectos econômicos, sociais e políticos da vila, suas potencialidades e várias informações sobre o progresso conquistado depois de vinte anos de fundação do povoado, ocorrida no dia 15 de agosto de 1892.

Essa data foi escolhida para comemorar a arrojada iniciativa dos fundadores que vieram de Miranda e Nioaque, iniciando a formação da sociedade aquidauanense. Prestes a completar 130 anos de fundação, é oportuno e necessário rememorar essas bases históricas que preenchem um capítulo importante da história da região, banhada pelo decantado rio Aquidauana, que, no século XVI, foi navegado por emissários do Império Espanhol e por missionários jesuítas.

Entre os fundadores estavam o major Theodoro Paes da Silva Rondon e o coronel João de Almeida Castro, líderes do grupo que subscreveu a compra do terreno para formar o patrimônio da vila nascida sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição. Esse traço marcante da inciativa particular iria se reproduzir em várias outras iniciativas da comunidade. Na referida data, foi realizada uma reunião histórica, da qual participaram quarenta cidadãos que trataram das questões mais imediatas para consolidar o nascimento do povoado. Foi então decidido o local ideal para construir a capela, o centro da futura vila e de outros espaços públicos.

Sob a copa de uma frondosa árvore e o solo forrado com uma manta de couro, foi lavrada a ata de fundação do povoado. Uma comissão foi escolhida para tomar as primeiras providências legais, constituída pelo major Teodoro Rondon, pelos coroneis João de Almeida Castro, Augusto Mascarenhas, Estevão Alves Correia e Manoel Antônio de Barros. Ficou na memória local essa arrojada inciativa de semear uma comunidade em plena solidão dos campos e das matas banhadas pelo famoso rio.

No ano seguinte, teve início a efetiva construção das primeiras casas e ranchos para abrigar as famílias que começaram a chegar a cada semana, buscando o início de um novo tempo de trabalho e de oportunidades em suas vidas. No curto período de seis anos, já estavam funcionando o serviço de correio e uma subdelegacia de polícia, ambos sob o comando do dinâmico coronel João de Almeida Castro.

Em 1899, o povoado foi elevado à categoria de distrito de paz e freguesia, com a denominação de Alto Aquidauana, quando, mais uma vez, foi nomeado o prestativo coronel João de Almeida Castro para exercer o cargo de juiz de paz. No mesmo ano, conforme consta no relatório elaborado pelo 2º vice-presidente do Estado do Mato Grosso, coronel Antônio Cesário de Figueiredo, em 1 de fevereiro de 1899, o governo havia assinado contrato com Vicente Anastácio para a prestação de serviços de navegação a vapor entre a cidade de Corumbá e o então distrito do Alto Aquidauana.

O distrito foi elevado à categoria de município, desmembrado de Miranda, pela Lei Estadual nº 467, de 18 de dezembro de 1906, com a denominação de Aquidauana, sendo sua instalação efetivada em 3 de maio do ano seguinte. Três anos depois, outra conquista importante foi a criação da comarca, início de um novo momento que ampliou o acesso da população aos serviços de administração da justiça.

Para finalizar, entre os eventos históricos de Aquidauana, do início do século 20, está ainda a inauguração do tráfego da Estrada de Ferro, em 21 de dezembro de 1912, conectando a vila ao Porto Esperança, à margem do rio Paraguai. Um divisor de águas na história regional que impulsionou as bases econômicas do município, assim como expandiu o comércio e a sua arrojada pecuária, abrindo espaço para a criação dos primeiros colégios, jornais, entre outras instituições culturais. Temas esses para motivar um outro retorno à história cultural das raízes do Mato Grosso do Sul.