...PELA TESTA, COMEÇAR!

            In memoriam

 

            - “Canção da Infantaria, pela testa, começar”! Gritava firme a voz do comando. Assim iniciava-se com vibração contagiando o restante do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva do 23º Batalhão de Caçadores, que juntos e perfilados, formávamos um só corpo. Foram tempos memoráveis, de aprendizagens as mais diversas, de consolidação de um caráter feito aço temperado no auge da juventude pelo forno Verde Oliva do Exército Brasileiro. Quase nunca as duas primeiras filas sabiam o que estava acontecendo lá atrás durante os deslocamentos, mas, éramos os primeiros a sermos avistados, éramos o termômetro que media a temperatura de todo o grupo, a linha de frente, a testa, constituída pelos mais altius em estatura era o cartão postal da tropa em número de quatro (4). Minha localização era na segunda fila. Na ponta mais baixa estava o (05) Dalton, depois vinha o (24), Laércio, em seguida o Luiz (25) e na outra ponta mais alta o (09) Fernando, que chamávamos de Fernandão! Magro, longilíneo, reservado e com sua marca registrada, o nariz, aquém chamávamos nas horas recreativas de “ladrão de oxigênio”, o que não o incomodava como bullying, aliás, isso nem existia da forma como denominam hoje, pelo contrário, era querido por todos. Por ser mais calado, era um grande observador de tudo que se passava entre nós. Era da cidade de Mombaça. Grande Fernandão!

 

            Lembro-me de um jogo de futebol que fizemos em Recife, contra o CPOR, por ocasião de uma visita que realizamos quase no final do Curso de Formação, o ano era 1982. Fernandão era o zagueiro, uma torre protetora de mais de 1,90m contra as bolas aéreas alçadas em nossa área. Tempos bons.  Boas recordações. Hoje cedo, bem cedo, ainda deitado, recebi a notícia de seu filho de que ele fora chamado à presença do Pai Celestial. Um choque. Pensei imediatamente, - a testa ficou desfalcada? Sofreu uma baixa, o gigante e tímido guerreiro partiu. Lutou contra uma doença terrível, um inimigo agressivo ao extremo, um C.A.. Lutou a boa luta, estava resistindo bem, mas, não estamos aqui para todo o sempre, então, depois de sua missão cumprida no front o guerreiro retirou-se para seu descanso. Permanecerá vivo em nossas memórias até o último guerreiro ser convocado aleatoriamente pelo Pai.

 

            Nosso amigo “Borel”, como era chamado pelos mais próximos da família e de amigos de sua cidade, também foi em vida um homem público, representante do seu povo, que fez história pelo seu lugar de origem. Honrou mandatos, trabalhou para e por aqueles que lhe confiaram seu voto. Hoje parte um homem, um pai, um avô dedicado, um grande amigo! Vai deixando saudades e recordações de uma vida vivida com fé em Deus. A família NPOR 82 23 BC chora lágrimas de uma amizade profunda, construída há quase 40 anos, uma irmandade Verde Oliva, cor da esperança, da bonança. Ele vai livre, solto das amarras de suas dores, vai seguir sua nova vida numa nova Pátria para habitar e amar como esta que ele tanto aprendeu a amar aqui também. Vai juntar-se aos outros quatro (4) combatentes e companheiros que o aguardam para lhe saudar com uma continência merecida. 2º TEN Fernando, estamos em sentido!

 

 

Hoje, 28/12/2021

 

Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 28/12/2021
Reeditado em 28/12/2021
Código do texto: T7417029
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