O DILEMA DE MALENA CAPITULO 2

Era, ali estava Malena dentro do seu carrinho no trânsito, acompanhada dos seus pensamentos avulsos. Aquela loira serena com olhar de índia branca, genuína mestiça cearense, era mulher batalhadora e persistente. Estava enfrentando a rotina escolar de professora há mais de quarenta anos na cidade grande. Devia tudo aquilo à sua fé, à determinação que desde menina se imprimiu a si mesma, depois dos muitos conselhos de sua mãe e da dualidade do pai, homem cheio de contradições e de altos e baixos como uma balança gangorra. Era assim mesmo, cada um tinha a família que a vida lhe dava, o que podia fazer agora? Já fizera mais, já não se preocupava tanto, apenas continuava batendo na pedra e estava satisfeita quase que plenamente com o que a vida lhe brindara até então. Tinha seu casal de filhos, uma realização plena, mas por outro lado tinha suas obras ainda por editar e divulgar, era, ali estava o resultado, não podia ser negativa nem se dizer insatisfeita, apesar de ter muita coisa a reclamar.

Vivia sua independência, muito batalhara e continuava encarando seu dia a dia na Cidade Maravilhosa. Querendo ou não, o Rio merecia seus aplausos, diferente da sua Aracati e da capital Fortaleza, ali no Sudeste encontrara suporte e respeito como ela jamais imaginara que pudesse alcançar na vida. Assim ia pensando em pleno caos do trânsito na estrada do galeão, enquanto se dirigia à sua casa própria onde morava numa vila na Ilha do Governador. Era feliz no seu bairro, estava satisfeita com os ares da região cercada de água. Aquele local histórico era a sala de visita de quem chegava de avião do estrangeiro na capital cultural do belo e esfarrapado Brasil. Não, não tinha quase nada que reclamar sobre o Rio, adotara aquela região, estava distante da sua terra, livrara-se das preocupações e dilemas que a atormentavam em sua juventude. Não podia salvar o mundo... tinha certeza de que fizera o melhor ao se livrar do inferno que era sua vida no interior onde nascera, o que pouco mudava da capital do seu estado. Será que tinha pecado pelo fato de ter reagido e procurado seu lugar ao sol? O que mais podia fazer pelos seus irmãos? Cada um procurava vencer ao seu modo, ora!... Uma coisa era certa, conselhos não faltaram para ninguém, essa é que era verdade e ponto.

Viera para o Rio no fim da década de setenta e ali estava residindo. A Cidade Maravilhosa passara a ser definitivamente o seu lugar, não tinha mais nenhuma dúvida disso. Sabia que não era qualquer um que tinha esse privilégio de sair de um interior nordestino e vir residir no Sudeste. Muitos vinham, mas para viver como? Havia os que se aventuravam exercendo atividades braçais, morando nas periferias, comendo o pão que diabo amassava. O perigo estava em toda parte, sabia disso, era inegável as balas perdidas, os assaltos, os azares.

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 27/12/2021
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