DE SPINOZA A JOÃO XXII. DEUS É TUDO.

Baruch Spinoza sinaliza: Deus é tudo.

Deus não é uma incógnita entidade, oculta e transcendente na visão spinoziana. Está em todas as coisas.

Longe de ser autocrático, regulando tudo e todos em normas, está em toda a natureza visível, animada e inanimada.

Credos “supõem, mesmo, que Deus esteja inativo desde que a natureza aja em sua ordem costumeira; e vice-versa...assim, elas imaginam dois poderes distintos um do outro, o poder de Deus e o poder da natureza”. Spinoza.

Sendo a natureza Deus não há dissociação. A crença de Spinoza se situa em um Deus fulcrado em que Ele e Natureza são a mesma coisa — Deus sive Natura (Deus ou Natureza).

“Tenho uma concepção de Deus e da natureza totalmente diferente da que costumam ter os cristãos mais recentes, pois afirmo que Deus é a causa imanente, e não externa, de todas as coisas. Eu digo: Tudo está em Deus; tudo vive e se movimenta em Deus”. Arremata assim: “Por ajuda de Deus, entendo a fixa e imutável ordem da natureza, ou a cadeia de eventos naturais. (…). A partir da infinita natureza de Deus, todas as coisas (…) decorrem dessa mesma necessidade, e da mesma maneira, que decorre da natureza de um triângulo, de eternidade à eternidade, que seus três ângulos são iguais a dois ângulos retos”.

Desembocamos nessa unidade de sermos o que é a natureza.

Chega-se ao Concilio Vaticano II.

Não há cristianismo sem reconhecimento dessa unidade onde o ser humano é excelência da natureza criativa. Ecumenismo é conversão interior.Anseio de unidade. Ligar-se a esse plano único impõe-se.

S. João: «Se dissermos que não temos pecado, fazemo-lo mentiroso e a sua palavra não está em nós» (1 Jo. 1,10).

E o maior pecado, digo eu de minha singela observação, é não reconhecer o direito dos outros, principalmente de crença, que faz do homem crescimento de sua alma, para subir a montanha e ver o sol.

O pecado em consciência é a cisão, nos apartarmos da unidade ecumênica, natural como é natural o Deus Spinoziano.

Costumeiro entre católicos reunirem-se frequentemente para oração pela unidade da Igreja, arca do Cristo Salvador, assim pedindo ardentemente ao Pai, na vigília de sua morte: «Que todos sejam um» (Jo. 17,21).

Orações prescritas, “pro unitate”, em reuniões ecumênicas, devem se associar aos irmãos separados. Rezas comuns, unidas por todos, natureza una, são meio bastante para possibilitar a unidade. São uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais ainda estão unidos os católicos com os irmãos separados: «Onde dois ou três estão congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles» (Mt. 18,20). Não esqueçamos, não há distinção. Cristo não a criou, falou a todas as gentes.

Mas não é lícito considerar a “communicatio in sacris” como um meio a ser aplicado indiscriminadamente na restauração da unidade dos cristãos. Esta "communicatio" deve principalmente se orientar de dois princípios: da necessidade de testemunhar a unidade da Igreja e dos homens, e da participação nos meios da graça. O testemunho da unidade frequentemente a proíbe. A busca da graça algumas vezes a recomenda. Sobre o modo concreto de agir, decida prudentemente a quem de direito clerical.

No diálogo ecumênico preside a natureza, mesmamente spinoziana, diante do princípio que todos são iguais como pessoas e gozam de suas liberdades de crença que não ofendam a própria natureza.

Papa João XXIII teve, por coincidência, a intuição do Concílio Ecumênico Vaticano II anunciado por ocasião do sínodo diocesano de Roma, na festa da conversão de São Paulo em 1959. Queria a unidade da qual nunca houve distinção de Cristo sobre nada.

"o modo e o método de enunciar a fé católica não devem de forma alguma servir de obstáculo ao diálogo com os irmãos"

João XXIII; abertura do Concílio.

Infelizmente, a família cristã, não atingiu ainda, plena e perfeitamente, esta visível unidade na verdade. A Igreja Católica julga, portanto, dever seu empenhar-se ativamente para que se realize o grande mistério daquela unidade, que Jesus Cristo pediu com oração ardente ao Pai celeste, pouco antes do seu sacrifício.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 16/12/2021
Código do texto: T7408704
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